Um dia fomos um.
Fomos dois e mais, fomos cinco pessoas que se amavam. Éramos eu, você, os meus e os nossos.
Num determinado momento, percebi que havia deixado de ser minha e me entreguei a você. Fui feliz assim. Fui imensamente feliz assim. Me perdi de mim.
Mas como tudo na vida tem começo, meio e fim, sem começo, nem meio, chegamos ao fim, e eu, perdida de mim, não me encontrando mais em você, vivi o vazio dos dias sem nós.
Tantos e quantos nós foram feitos! Tantos e quantos nós nos ataram um ao outro a ponto de acharmos que nada, nem ninguém nos afastaria, mas nos esquecemos de nós mesmos.
Nós, responsáveis por atar os nós, fomos inconseqüentes, pequenos, mesquinhos e egoístas, e, sendo um só, fomos dois e tratamos de desatar cada um dos nós, até que não restasse mais nenhum nó e nós deixássemos de existir.
Então hoje, não somos cinco. Somos dois.
Vivemos em mundos paralelos, em linhas que jamais se cruzam ou se cruzarão.
O que me conforta é pensar que um dia, fomos nós. Que um dia, houve nós, então, o que sou hoje pouco importa, porque ontem, perdida de mim, me encontrava em você... e a vida segue.
Hoje, ainda perdida de mim e não mais em você, vejo o quanto tudo mudou, sinto o quanto tudo mudou e mesmo triste, sou feliz, por saber que em algum lugar, num mundo paralelo ao meu, está meu outro eu. Está você e somos nós.