Ontem, meu filho de 12 anos
chegou em casa me dizendo que aprendeu um novo palavrão ou nova expressão na
escola, e então me disse “chupa a cobra e bebe o leite”...
Eu não sabia se estava triste,
surpresa, horrorizada ou um misto de tudo isso.
Estudei na EEPSG Maestro Callia
da primeira até a oitava série e, meu filho, hoje estuda neste mesmo colégio,
porém tudo aquilo que era, já não é mais. Não tem mais área verde, nem a
quadra, nem o pátio. Hoje, os portões de acesso são cheios de grades, a
secretaria é toda fechada e os poucos funcionários não dão conta de controlar e
vigiar os alunos.
No segundo dia de aula, meu filho
chegou em casa assustado, porque uns garotos o encurralaram no banheiro e
queriam obriga-lo a fumar junto com eles. No terceiro dia, chegou todo arranhado e sujo, e me relatou que duas
meninas da sala dele o agrediram e colocaram papel higiênico em sua boca.
Claro que eu, como mãe leoa,
estava na escola no dia seguinte às sete da manhã para conversar com o diretor
e, este, por sua vez, me disse que não tinha como controlar todas as crianças porque
a escola dispõe de poucos funcionários e que as meninas que o agrediram foram
advertidas e seus pais deveriam comparecer à escola no dia seguinte. Também
disse que o conselho tutelar entraria em contato com as famílias para
identificar a causa de tal comportamento, uma vez que as meninas eram reincidentes
e já haviam apresentado desvio comportamental com outros alunos.
Eu fiz de conta que acreditei na
história e ele ficou satisfeito com a mentira tão elaborada que me contou. Ele
também me pediu para não procurar contato com as meninas ou com seus pais, porque temia a reação que
eu poderia causar, já que hoje, está muito comum vermos pais apanhando na frente
da escola de seus filhos.
No dia seguinte, fui novamente à
escola e pedi para que meu filho me apontasse suas agressoras. Chamei uma das
meninas, porque a outra não apareceu, e conversei com ela calmamente, sentada
na calçada, sem fazer alarde, sem que outros alunos vissem, afim de evitarmos
cenas ruins e constrangimentos. Foi satisfatório, mas não efetivo, já que a
frase que coloquei lá em cima, foi dita por uma das agressoras.
Porque estou escrevendo tudo
isso?!
Porque me vejo impotente num
território que há alguns anos atrás, era extensão da minha casa.
Claro que em minha época haviam
os valentões, haviam as meninas briguentas, haviam os transgressores, mas não
me lembro de nenhum deles desacatar um professor, fumar na escola ou bater em
pais que se manifestassem em defesa de seus filhos.
Na minha época, não haviam
meninas que dançavam de maneira sensual, músicas que repetem palavras como PAU
e BUCETA. A gente dançava lambada, dançava rock, dançava pop, era fã de
boyband, dançava na rua, nas festinhas, mas não tinha dança de colo, muito
menos sexo durante bailes e festas.
Hoje é comum vermos vídeos na
internet onde meninas de dez anos rebolam nas pernas dos garotos, que as chamam
de NOVINHAS e elas adoram! Hoje é comum vermos meninos andando com celulares
tocando funk na rua, fumando maconha em plena luz do dia e encarando com ar intimidador
quem tenta repreender.
Então hoje, acordei com o
pensamento pesado, cansado, saturado e incapaz de cessar, porque me vi tendo
necessidade de fazer algo pra mudar isso tudo.
Meu filho foi trazido a este
mundo para ser feliz, ser respeitado, ser respeitável e não para apanhar de
garotas raivosas ou para ser intimidado por meninos malvados.
Meu filho está na mesma escola
que eu estudei, mas só no nome, porque o diretor, Sr. Antônio jamais inventaria
uma história envolvendo conselho tutelar só pra calar a boca de uma mãe. Veja,
não estou dizendo que o atual diretor é ruim, só estou dizendo que antigamente,
impunha-se respeito e se exigia ser respeitado. Antigamente, pais eram pais e
filhos eram filhos!
Acordei querendo ir até a escola
e discursar pros vinte e tantos alunos da sétima série, pra tentar de alguma
forma faze-los entender o que é respeito e amor ao próximo.
Acordei querendo reunir os pais
desses alunos, afim de pedir ajuda para educarmos nossos filhos juntos e
mostrarmos que responsabilidade e comprometimento começam cedo!
Acordei com vontade de acordar o
resto do mundo para a forma degradante que nossas crianças tem sido tratadas!
Acordei com vontade de abrir os
olhos de todos para a forma tão humilhante que nossos filhos tem se comportado!
Acordei com vontade de derrubar
os muros daquela escola, remover as grades, fazer com que a escola voltasse no
tempo e recuperasse seu gramado e a qualidade de antes. Queria que os
professores que tive fossem professores do meu filho.
Acordei triste porque é
devastador pensar que crianças de dez a treze anos são mini marginais porque
são espelho dessa sociedade podre que aí está!
Claro que não são todos assim!
Tenho filhos de amigas que também estudam lá e apanham junto com meu filho.
Conheci educadores que fazem milagre com o pouco que tem, dando aula naquela
prisão que se tornou o Callia. Conheço o Souza que era inspetor na minha infância
e continua lá cuidando dos pequenininhos.
Não posso generalizar, mas nesse
momento, não consigo ver nada além de descaso e desespero.
Não consigo sentir nada além de
vergonha e impotência.