Esses dias, vi que minha sobrinha
de vinte e poucos anos está lendo um livro com o título “não se apega”.
Não vi quem é o autor, tão pouco o conteúdo, mas pelo título, suponho que seja
mais um desses livros com a fórmula mágica do desamor, do desapego, do descaso
com o sentimento do outro.
Não sei se é, pode ser que eu esteja tremendamente errada.
Veja, não estou criticando o
livro, só estou supondo, pelo título, qual pode ser o conteúdo.
Essa minha sobrinha é linda,
inteligente, independente, destemida, e tantos outros adjetivos que eu também possuía
quando estava na casa dos vinte.
Hoje vejo o quão errada fui. O quão
fútil fui.
De tão linda, achava que o mundo
deveria sempre se curvar aos meus pés.
De tão inteligente, me
considerava acima de tudo e de todos, logo, inalcançável.
De tão independente, não
precisava de nada, nem de ninguém para me fazer bem, para ocupar meu coração,
porque este já estava ocupado demais com meu amor por mim.
De tão destemida, não me
importava com os riscos que corria, tão pouco com os corações que partia, pois
sabia que o futuro para mim seria tudo aquilo que eu quisesse, seria somente o
que eu fizesse dele.
Parti o coração de garotos
bacanas, porque a política do pegar e não apegar era minha filosofia de vida.
Vi e senti meu coração se partir
também muitas vezes porque sempre encontrei aqueles que tinham uma política parecida
com a minha.
Hoje, passado tudo isso, penso
que adoraria comprar um livro que me dissesse como não me apegar, como não me
interessar, como não me importar.
Hoje, passado tudo isso, sinto
que adoraria comprar um livro que me dissesse como fazer com que o outro se
apegue, se interesse, se importe.
Hoje, passado tudo isso, vejo que
somos seres vazios, tão preocupados em nossa preservação individual, que nos
tornamos incapazes de deixar que o amor aconteça, porque amor e dor caminham
juntos e estando fechados para o sentimento, evitamos a dor. Estabelecemos
padrões, meios de análise, formas de simular e camuflar o que somos e o que
queremos, então, magoamos.
Magoamos àqueles que sonham com o
amor.
Decepcionamos àqueles que se
abrem para nós.
Desiludimos àqueles que esperam
um mínimo gesto de afeto.
Hoje, tendo passado por tudo
isso, fui pega pelo amor, mas o amor não se apegou a mim.
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