sexta-feira, 24 de outubro de 2014

PEGA E NÃO SE APEGA


Esses dias, vi que minha sobrinha de vinte e poucos anos está lendo um livro com o título “não se apega”. Não vi quem é o autor, tão pouco o conteúdo, mas pelo título, suponho que seja mais um desses livros com a fórmula mágica do desamor, do desapego, do descaso com o sentimento do outro.



Não sei se é, pode ser que eu esteja tremendamente errada.

Veja, não estou criticando o livro, só estou supondo, pelo título, qual pode ser o conteúdo.

Essa minha sobrinha é linda, inteligente, independente, destemida, e tantos outros adjetivos que eu também possuía quando estava na casa dos vinte.

Hoje vejo o quão errada fui. O quão fútil fui.

De tão linda, achava que o mundo deveria sempre se curvar aos meus pés.

De tão inteligente, me considerava acima de tudo e de todos, logo, inalcançável.

De tão independente, não precisava de nada, nem de ninguém para me fazer bem, para ocupar meu coração, porque este já estava ocupado demais com meu amor por mim.

De tão destemida, não me importava com os riscos que corria, tão pouco com os corações que partia, pois sabia que o futuro para mim seria tudo aquilo que eu quisesse, seria somente o que eu fizesse dele.

Parti o coração de garotos bacanas, porque a política do pegar e não apegar era minha filosofia de vida.

Vi e senti meu coração se partir também muitas vezes porque sempre encontrei aqueles que tinham uma política parecida com a minha.

Hoje, passado tudo isso, penso que adoraria comprar um livro que me dissesse como não me apegar, como não me interessar, como não me importar.

Hoje, passado tudo isso, sinto que adoraria comprar um livro que me dissesse como fazer com que o outro se apegue, se interesse, se importe.

Hoje, passado tudo isso, vejo que somos seres vazios, tão preocupados em nossa preservação individual, que nos tornamos incapazes de deixar que o amor aconteça, porque amor e dor caminham juntos e estando fechados para o sentimento, evitamos a dor. Estabelecemos padrões, meios de análise, formas de simular e camuflar o que somos e o que queremos, então, magoamos.

Magoamos àqueles que sonham com o amor.

Decepcionamos àqueles que se abrem para nós. 

Desiludimos àqueles que esperam um mínimo gesto de afeto.


Hoje, tendo passado por tudo isso, fui pega pelo amor, mas o amor não se apegou a mim.



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