sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

ABORTO



Quando eu tinha 15 anos, uma garota que fazia parte do meu grupo fez um aborto. Na verdade, eu fui a única que soube que ela havia feito, porque conhecia pessoas que acompanharam a internação e processo de recuperação. 
A garota tomou remédios em casa e foi pro hospital com hemorragia. Foi tratada inicialmente bem, até que os médicos perceberam que o que ela havia feito e o tratamento mudou. Teve o devido cuidado médico, mas não teve o carinho que uma adolescente recebe normalmente.

Nós não éramos amigas, só colegas e quando ela retornou ao grupo, ficava distante, triste, era nítido que não se sentia bem com o que havia feito.

Essa garota engravidou do primeiro namorado com quem teve relação sexual. Engravidou na primeira relação adulta que teve. A mãe permitia que o namorado dormisse em sua casa, logo, tinha ciência de que a filha mantinha relações sexuais com o namorado, dentro de  casa.

Quando ela contou ao namorado, ele surtou e terminou o namoro. A garota também não teve o apoio da mãe e se resolveu sozinha.

No dia 01/12/2016, o assunto mais  comentado nas redes sociais era sobre a legalização do aborto. Várias pessoas defendendo a legalização e outras tantas se mostrando contra.

Acontece que o que vi, foi um monde de adolescentes discursando sobre a importância da autonomia sobre o próprio corpo e por consequência, a liberdade de escolher abortar se e quando necessário.

As mulheres e homens adultos, que se mostraram contra o aborto, são em geral pais e mães, que hoje entendem a importância e o valor da vida de um filho e que não conseguem imaginar a vida de um filho sendo ceifada.



Dentre os discursos a favor, vi pessoas dizendo que essa é uma medida positiva, tendo em vista o fato de que muitas meninas morrem em clinicas clandestinas, uma vez que com ou sem legalização, o aborto é prática comum há muitos anos.

Também vi uma adolescente, no auge dos seus 15 anos recém completados, escrever um texto imenso sobre a liberdade de escolha e acrescentou que hoje tem 15 anos, mas já teve 3 meses de vida no ventre de sua mãe e não se recorda disso, ou seja, se tivesse sido abortada, jamais saberia de nada. Afirmou que uma grávida não é mãe e um feto não é uma criança.

Então vejo vídeos de aborto, vídeos de discursos contra o aborto, pessoas usando o símbolo #hashtag afim de que sua ideia fique mais e mais difundida e sinto um peso imenso em meu coração.


Fiquei grávida do meu primeiro filho aos 25 anos e o pai me disse pra abortar. Lembro que em meu primeiro ultrassom, ainda transvaginal, porque não há meio de fazer ultrassom pélvico com duas semanas de gestação, vi escrito “batimentos cardio-fetais estão presentes” e a medida do meu filho era 5mm. Me tornei mãe naquele instante. Defendi minha cria do homem malvado que me dizia pra não permitir que ele viesse ao mundo, e amei saber que dentro de mim, algo ainda sem forma, já pulsava, já era coração... Meu filho tinha 15 dias de vida e eu era mãe há 15 dias.

Concordo que a luta pelo feminismo abriu espaço para inúmeras mudanças, conquistadas a duras penas e em meio a muitos protestos, mas me pergunto diariamente se lutamos causas verdadeiramente nobres e reais, ou se extrapolamos e acabamos por transpor algumas barreiras pelo simples fato de testarmos nosso poder de ser e existir.

Outro dia vi um vídeo que até comentei nas redes sociais, de um grupo com nome totalmente ofensivo, que se dizia feminista, gritava palavras de baixo calão, defendia o aborto com a bandeira da liberdade, e, ofendia o papa abertamente. A conclusão que chego é que para este grupo musical alternativo, liberdade tem a ver com não se depilar, menstruar o tempo inteiro com sofrimento, fazer sexo com quem quiser, sem usar camisinha e caso ocorra uma gestação, abortar sem sequer sentir remorso e jamais, em tempo algum, pisar na igreja porque o papa é uma aberração da natureza e é homem, logo, não merece seu respeito, tão pouco sua atenção.

Em minha segunda gestação, passei muito mal. Desmaiava na rua, sentia fome o tempo todo, vomitava dia e noite e minha filha nasceu prematura, com apenas seis meses, pesando 1,400kg. Ficou 22 dias na UTI e sempre que olho pra ela, hoje com 6 anos, vejo, sinto e sei o quanto Deus me ama, e meu milagre sorri pra mim. Eu lutei por ela e ela lutou pela vida.

Tirar uma vida, qualquer vida, é crime.

Uma vida, tendo 5mm, 12 semanas, ou em qualquer tempo, é uma vida e não podemos nos julgar tão soberanos a ponto de decidirmos se merece ou não continuar a existir.

Mas, quem sou eu para dizer o que e como cada um deve viver, não é mesmo?! Vivo num mundo onde:
Existem não-pessoas que abandonam filhos.
Existem não-pessoas que abusam dos próprios filhos.
Existem não-pessoas que aliciam os próprios filhos.
Existem não-pessoas que espancam e torturam seus filhos.
Existem não-pessoas que roubam os filhos dos outros.
Existem não-pessoas que abusam dos filhos dos outros.
Existem não-pessoas que aliciam os filhos dos outros.
Existem não-pessoas que espancam e torturam os filhos dos outros.
E existem não-pessoas que matam os próprios filhos e os filhos dos outros.

Não-pessoas é um grupo ou classe crescente no nosso mundo e infelizmente, tem tomado força e proporção e, logo, causará a extinção das pessoas.

Então, a conclusão que chego é que caminhamos para um abismo. Temos filhos que matam seus pais, pais que matam filhos, pessoas que matam por qualquer motivo, pessoas que matam sem motivo, gente boa, gente má, então, claro que também há quem ache o aborto uma coisa normal, afinal, somos livres para decidirmos o que fazemos com nossos corpos, não é mesmo?! Então, partindo deste principio, o corpo que cresce dentro de nosso corpo também pode decidir se quer viver ou morrer?! Ou a opinião dele só conta a partir do momento que sai do corpo em que está sendo gerado?!

Pergunto a quem tem filhos, mas somente para pessoas que são pais e mães de verdade, pessoas que não fazem parte do grupo de não-pessoas, pergunto a este pequeno e seleto grupo de pessoas que sentem dor na alma de imaginar um filho sendo ferido: Seriam capazes de abortar?! Seriam capazes de tirar a vida de uma vida que é sua?!

Tenho certeza de que hoje, se eu perguntar àquela garota do meu grupo de adolescência, se faria um aborto novamente, ela com toda certeza do mundo é veementemente contra, porque hoje é mãe e sabe o valor da vida de um filho seu.

A outra jovem, essa de 15 anos recém completados, só posso dizer que se sua mãe tivesse pensamento semelhante ao seu quando a gerou,  certamente não estaria aqui para dizer em seu texto que não se recorda de seus 3 meses de gestação... Aliás,  certamente sua mãe se lembra e tem fotos maravilhosas para te mostrar, da barriga crescendo, os ultrassons de todo mês e cada pedacinho do seu lindo corpo em formação... Também tem fotos do seu primeiro aniversário, bem como esta foto dos seus maravilhosos 15 aninhos...

Nada mais tenho o que argumentar sobre aborto, porque já sou voto vencido. Já é direito adquirido a decisão da morte de inocentes, então, assim como os mandamentos e o respeito pelo Santo Papa cabem aos cristãos e a abstinência sexual é para padres, o aborto é somente para os desprovidos de amor e temor a Deus...

 “Antes mesmo de te formar no ventre materno, eu te conheci; antes que saísses do seio, eu te consagrei” (Jr 1,1-5).

Mas, quando aprouve a Deus, que desde o ventre de minha mãe me separou, e me chamou pela sua graça” (Gl 1 15)


“porque ele será grande diante do Senhor; não beberá vinho, nem bebida forte; e será cheio do Espírito Santo já desde o ventre de sua mãe;” (Lucas 1 15)


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