Hoje é 21/10/2020, estamos em meio a uma pandemia que não se
sabe ao certo se está no começo, no meio ou no fim, mas sabemos que já se
passaram 7 meses de distanciamento social, onde na periferia, o baile funk
continua acontecendo, os botecos continuam abrindo e o samba é o mesmo samba de
sempre. Onde pessoas enfrentam filas quilométricas na Caixa Econômica, faça
chuva ou faça sol, para tentar retirar os 600, ou 300, ou 200 reais que o
governo liberou como auxílio emergencial.
Hoje, nos deparamos com o preço dos alimentos subindo
vertiginosamente, estando uma caixa de
leite quase na casa dos 5reais e um pacote de arroz custando 25,00.
Mas o meu registro vai além dos valores monetários, também é
um registro comportamental e moral.
Estamos num momento onde pessoas são perfeitas no instagram
graças aos filtros criados por estrelas como Giovanna Ewbank, que teve bebê
recentemente e alcançou maior destaque no app porque “apesar de tudo” continua
linda. (Apesar de tudo o que?)
Vivencio um estado de choque, surpresa e indignação
constante porque este é o momento em que todos querem ser um exemplo de
história de sucesso e superação. Todos querem ter algo para contar que vai “lacrar”
nas redes sociais, então, inventam
heróis e postam torcendo para que lágrimas gravadas no celular, suor demonstrado
nos tops de academia, pratos montados de maneira saudável os façam ganhar
algumas curtidas, talvez uns comentários, quem sabe até alguns
compartilhamentos.
Ah sim, estamos em ano de eleição para prefeito, então,
também temos a guerra política, porque hoje, o acesso à exposição nas redes
também faz com que tentemos ser influencers, além de lacradores diários.
Preciso demonstrar que meu candidato é melhor que o seu e se não te convencer,
então deixo de te seguir, te bloqueio e cuidado, porque se der na telha, também
te denuncio!
Também aproveito para registrar minha falta de habilidade e
entendimento no que diz respeito ao atual momento sexual da humanidade. Fui criada
para entender que existe o sexo feminino e o sexo masculino, então, é muito difícil
entender a necessidade da exposição da vida intima da população, que define-se
por letras como LGBTQA+, e, o + significa algo que está ainda por vir. Em meu
conceito, o que homens e mulheres fazem e com quem se relacionam entre quatro
paredes só diz respeito aos envolvidos, mas ao que parece, a necessidade de exposição,
lacração e reconhecimento faz com que eu tenha que continuar meio perdida no
meio disso tudo. Veja, não tenho preconceito de raça, credo, gênero ou o que
quer que seja, só vejo a humanidade se dividindo em grupos cada vez mais
agressivos, porque todo mundo quer ter o direito de ter razão, então,
esquece-se a humanidade e ressalta-se a causa.
Meu filho disse que define-se como “Helicóptero Apache de
Combate”... não sei o que isso significa.
Faltou registrar minha total inabilidade em lidar com meus
42 anos. Não sei se sou uma senhora, uma jovem senhora, uma velha jovem ou
qualquer outra coisa. Meu corpo muda a todo instante, minha cabeça não
acompanha e meu humor muda assim como o tempo durante o dia, que amanhece sol,
de repente fica nublado, chove muito e anoitece com um ar abafado e estranho.
Acho que por enquanto é isso. Com certeza existem mais fatos
a registrar, mas agora não quero mais escrever.
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