sábado, 20 de março de 2021

A Quarentena, o BBB, A Vizinha e a Incontinência Verbal


 Tenho uma vizinha, que lembra muito a mim mesma quando eu ainda era normal. Daquelas que acena com a cabeça e dá um leve meio sorriso de boca fechada pra dar bom dia, boa tarde ou boa noite, sabe?! Bem reservada, bem contida, bem normal mesmo. Exatamente como eu era antes da quarentena me afetar.


Pois bem, hoje, eu estava molhando as plantinhas e de repente dei de cara com a vizinha e seu namorado lavando o carro na rua e eu já fui logo soltando "Ai, gente! To louca por um carro desse! Essa é minha meta! Assim que o Detran voltar a funcionar, o documento do meu carro for liberado, vou trocar esse que tenho, por um igual a esse seu! To apaixonada por esse carro! Que ano é?!" e o rapaz timidamente respondeu "2010" e eu super empolgada " viu?! é isso! essa é a meta! Isso, claro, se minha poupança não acabar antes né?!" e o jovem casal me deu um leve aceno de cabeça com um meio sorriso sem graça... 

Tive então um breve momento de lucidez e disse "olha a vizinha maluca abrindo a vida pro vizinho desconhecido né?! 

E a vizinha me diz: "ah, você não conheceu meu namorado né?!"... e meu pensamento foi... "oh florzinha, não conheço nem você!"...

Depois desse breve episódio, me dei conta de que isso tem acontecido com certa frequência. 

No mercado, paro no meio do corredor e abro minha vida conjulgal enquanto discuto a eficácia do Lysoform com a primeira desconhecida que aparece. Na farmácia, falo sobre meus medos e das tristezas dos dias atuais enquanto escolho vitaminas para os cabelos. No Detran, confesso pra atendente que estou no meio de uma crise de  diarréia nervosa por não conseguir resolver o problema do carro, mas estou amando, porque percebi que emagreci por conta da diarréia e já aproveito pra contar pra ela porque engordei...



Esse é o efeito Quarentena + BBB. Minha rotina atual se resume a acordar, limpar a casa, ver o jornal para saber dos números que me apavoram cada dia mais, me certificar que mais ninguém da família está doente, colocar a TV no BBB e começar a trabalhar enquanto o povo se mata na casa entre "tchurubei Tchurubai, BRASIIIIIIILLLL e tchaki tchaki. 

Para as refeições, se tenho tempo, faço comidinhas elaboradas, se não tenho tempo, IFOOD é o melhor do mundo e pronto!

Só converso com uma pessoa fora do trabalho, que é alguém que conheci por conta do trabalho e se tornou minha consciência, consultora financeira, terapeuta e BFF. Tomamos café ou almoçamos em chamadas de vídeo às vezes e quando estamos angustiadas, contamos uma com a outra. 

Aliás, ela sido minha salvação, porque se não fosse isso, acho que eu começaria a parar o carteiro, o entregador do IFOOD, alguém que viesse pedir ou vender algo no portão, o guarda da rua e logo estaria fazendo campana no portão pra ver se alguém sairia disposto para conversar comigo... 

Já pensou se eu paro pra conversar com algum instalador de TV a cabo? Ele lá pendurado na escada e eu aqui embaixo encostada no carro tagarelando?.. ai que vergonha!

Percebi que minha incontinência verbal atingiu um nível pró. Estou realmente tentada a ir alí na sacada chamar a vizinha pra me desculpar e pedir pra ela dizer pro namorado que eu não sou tão retardada quanto demonstrei, mas quero aproveitar pra perguntar se o carro é bacana mesmo, se é econômico, se a mecânica é boa.... será que é ruim fazer isso?!

Hoje tem festa no BBB, acho que vou fazer uma maquiagem, colocar uma roupa de acordo com o tema da festa, fazer umas bebidas, dançar, ficar bêbada, participar das tretas da TV, fazer uns tchaki tchaki... no meu quarto, ninguém vai ver e falando sozinha corro menos risco né? 

Pronto! Vou já entrar no IFOOD e pedir uns salgados pra começar minha pré-festa!



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