quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Comercialmente falando...

Já reparou que a gente passa a vida inteira vendendo algo?!

Vendemos idéias, ideais, vontades, contrariedades, romances, amores, paixões, desilusões... nós mesmos.

Nos vendemos para nossos amigos, parentes, amores, amantes, dependendo da ocasião, nos vendemos também para nós mesmos.

Para os amigos, vendemos a imagem de que somos confiáveis, alegres, abertos, dispostos e disponíveis e temos um trabalhão pra manter o produto vendido, pois corremos o risco de perdermos o cliente por tempo indeterminado, talvez para sempre.

Para os parentes, dependendo da ocasião, vendemos que somos diferentes dos demais, que somos meigos, que somos carinhosos, que somos carentes, na verdade, para os parentes vendemos mais nossos defeitos do que nossas qualidades, com a desculpa de que devemos ser aceitos, comprados e amados exatamente como somos, pois como parentes, são clientes cativos, que teoricamente, não tem a opção de nos devolver para a prateleira...

Para os amantes, vendemos nossa sensualidade, nossa sexualidade e nosso desprendimento. Neste caso, o cliente que nos compra tende a procurar algo melhor no mercado, então, nosso empenho é dobrado nessa conquista. Temos que investir em perfumes, roupas, lingeries, caras e bocas, disponibilidade, voracidade e principalmente, na arte da sedução. Tal venda é extremamente prazerosa, pois requer inteligencia, dedicação e ao mesmo tempo, faz com que representemos ser aquilo que não somos, mas que gostariamos muito de ser...

Para os amores, oferecemos quase que gratuitamente tudo o que não nos é pedido. Vendemos a possibilidade de sermos fiéis, apaixonados, dedicados, entregues e perfeitos. Junto com tudo isso, oferecemos nossa carencia afetiva, nossa atenção integral, nossa visão de futuro e nosso desejo de felicidade. Acredito que essa seja a venda menos lucrativa e ao mesmo tempo, a mais valiosa. Encontrar um comprador para o amor que ofertamos não é tarefa fácil, pois apesar de aparentemente simples, encontrar um comprador que esteja disposto a se vender também, é quase tão raro quanto ganhar na loteria. De todas as formas de venda, essa é a que mais importa.

Amigos vem e vão, são substituíveis e volúveis, ora nos amam, ora nos odeiam.

Parentes são o sinônimo de conformismo, de segurança, pois por mais que tenham vontade de nos substituir, não podem fazer isso, então, se contentam com o que oferecemos e pronto!

Amantes são amigos que levamos para a cama, também são substituíveis, também são passageiros e da mesma maneira que nos desejam, deixam de desejar, assim como desejamos e deixamos de desejar... é mais uma relação de troca, do que propriamente de compra e venda.

Já os amores são como aqueles clientes que queremos manter a todo custo, às vezes conseguimos, mas na maioria das vezes, falhamos. São aquelas negociações intermináveis que raramente resultam no fechamento do negócio, no casamento propriamente dito. São aquelas contas super concorridas, que o mercado disputa a unha e que para isso, reduzimos nosso custo a quase zero, abrindo mão da margem de lucro, colocando em risco a saúde da nossa empresa (nós mesmos) e que muitas vezes, no final das contas, não vale a pena tanto esforço.

Por alguma razão, nos tratamos como produtos em prateleiras, sempre à disposição, em exposição, afim de que sejamos valorizados, aceitos e comprados.

Não existe muita lógica nisso, mas é um fato. Cuidamos da nossa embalagem, nosso conteúdo, nossa projeção e nossa atratividade para o mercado.

Mas por mais que façamos investimentos, por mais que façamos melhorias ou busquemos atualizações, reciclagens e afins, nem sempre somos comprados pelo valor justo, na verdade, acho que a sensação de estarmos pouco valorizados pelo mercado é algo constante, algo que incomoda, que nos faz sentir infelizes...


Comercialmente falando, somos o produto que ao nosso ver, todos deveriam querer e se matar para ter, mas que por alguma razão às vezes encalhamos na prateleira, ficando cheios de poeira, com o prazo de validade vencido,  correndo o risco de parar naquelas bancas de promoção, do tipo compre um e leve dois...


Talvez seja hora de investir em me tornar matéria-prima e não produto final...



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