Há algum tempo, escrevi um texto chamado “Adoráveis”, no qual me desculpava por ter me tornado predadora e consequentemente, por ter diminuído muitíssimo meu valor no mundo, enquanto mulher e ser humano.
Naquele texto, mencionei seres maravilhosos que apareceram no meu caminho e que eu, como boa predadora, havia espantado, diminuído, desvalorizado ou até mesmo deixado de notar.
Desde aquele texto, não houveram mais seres adoráveis, porque desde aquele texto, fiz o possível para afastar toda e qualquer chance de um deles voltar a cruzar meu caminho. Me cerquei de um campo de força impenetrável, composto de mentiras, um contrato civil, um religioso e muito desgosto.
Quando esse escudo se desfez, tratei de adotar a postura mais agressiva possível, caçando, buscando, provocando e ao mesmo tempo, mantendo a distancia segura, que só um bom predador conhece. Podendo caçar e largar a presa, podendo somente participar de uma corrida, sem chegar de fato a cravar os dentes, podendo instigar e depois dizer que o outro foi quem não quis.
Hoje, fazendo uma releitura de tal texto, percebi que ao escrevê-lo, reconheci alguns erros, mudei algumas atitudes, mas que no conceito geral, ainda venho mantendo a postura agressiva de sempre. Continuo caçando.
Então me perguntei a razão de estar sempre um passo à frente. Questionei minha postura pró-ativa ao invés de reativa. Me dei conta de que caço porque não gosto de ser caçada.
Adotar a postura de caçadora, ou predadora, me dá a falsa sensação de estar no comando. De ditar regras e dizer com quem, quando e onde quero estar.
Me permite imaginar que estou sempre em movimento ou “me preparando para”, quando na verdade, estou somente usando uma artimanha para não perceber o quão vazia essa rotina se tornou.
Usando tal artifício, torno muito mais fácil aceitar o fato de que num mundo tão cheio de gente, estou sempre só. Seria muito ruim não agir e perceber que também não provoco nenhuma ação, enquanto estou em estado de espera.
Sem contar o fato de que é muitíssimo mais fácil assumir uma postura de ataque e receber uma recusa, do que correr o risco de ser atacada e demonstrar meu lado mais frágil, aquele que faço o possível para esconder. Imaginar que alguém poderia num momento desses descobrir que não sou metade do que prometo, que não conheço metade do que digo e que minha vida é tão ativa quanto a de um marisco é um risco muito alto.
Enfim, hoje, após toda essa releitura, revisão de conceitos e obviamente, me dar conta de que essa realidade triste existe mesmo na minha vidinha, decidi não mais caçar. Vou deixar de ser leoa e adotar a postura de ovelha. Se ao final do inverno, nenhum predador tiver me atacado e eu não for ao menos tosqueada, vou ter que aprender a ser um ser adorável. Quem sabe uma hora dessas eu cruzo o caminho de alguém, assim como esses outros adoráveis cruzaram o meu um dia né?!
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