Certo dia, a Esperança quis viver
novas aventuras, conhecer novas pessoas, sentir novas emoções e decidiu se
arriscar no Trem da Vida.
Chegou na Estação do Desejo e
embarcou. Ansiosa, receosa e cheia de expectativas.
Ao entrar no vagão, viu que
vários passageiros ocupavam bancos onde sempre havia um lugar vago, o que
facilitava muito sua aproximação.
Criou coragem e sentou-se ao lado
do primeiro passageiro.
Olá! Sou Esperança!
“Oi! Sou a melhor pessoa que você
poderia ter escolhido para se aproximar! Minha vida é cheia de vantagens e
aventuras! Sou tudo aquilo que qualquer pessoa precisa para ser feliz! Não
tenho defeitos, tão pouco fraquezas!” – À medida que iam se conhecendo,
Esperança percebeu que tratava-se da Mentira, e, seu coração se encheu de
dúvidas. Despediu-se gentilmente e passou a procurar outro assento, pois sabia
que aquela pessoa jamais se mostraria e que provavelmente a decepcionaria num
futuro bem proximo.
Sentou-se ao lado de outro
passageiro.
“Oi! Me chamo Solidão!... –
Depois de um longo silêncio, suspirou e voltou a conversar: “ Estou só há tanto
tempo que já nem sei mais me expressar. Na verdade, sempre estou cercada de
pessoas e coisas, mas algo me falta. Acho que gostaria muito de encontrar algo
ou alguém que me tirasse esse vazio... Será você?! – Esperança sentiu-se comovida e
solidária, mas não poderia fazer nada para mudar o que a Solidão sentia, pois
antes de mais nada, haveria necessidade de se sentir plena e isso é algo que
não depende de ninguém além dela mesma. Então lhe deu um longo abraço e se
despediu, dizendo que voltaria sempre e quando ela precisasse ou quisesse uma
amiga.
Mais adiante havia outro
passageiro.
“E aí?! Beleza?! Me chamo
Liberdade! Se quiser, pode sentar-se ao meu lado, mas se não quiser, não tem
problema! Sou livre de apegos, preconceitos, limites, tempo e espaço! Só fica
comigo quem quer e quem não quer, não faz falta! Faço o que quero, como quero e
quando quero! Muita gente me quer, mas poucos me tem, porque sou como sou e
para muitos, sou demais. Pessoas precisam sempre se prender a algo, precisam
sempre determinar coisas, delimitar e decidir e eu não quero nada disso! Sigo o
vento, não tenho tempo! – Esperança achou a Liberdade linda e autentica, mas
desapegada demais, displicente demais e ela queria o que todos querem. De
repente percebeu que era totalmente dispensável à Liberdade e a sensação de não
ser desejada ou necessária não a agradou. Então, despediu-se com pesar e seguiu
seu caminho.
Em outro banco, encontrou um
passageiro que lhe pareceu um sonho! Tinha tudo o que Esperança buscava!
Falaram sobre música, teatro, amigos, filmes e pensamentos efêmeros. Sentiu-se
confortável ao lado daquele passageiro! Havia encontrado o que sua alma
desejava, o que em seus sonhos mais secretos pedia. Mas este lhe disse que não
poderia ficar com ela, pois não estava pronto. Então fez planos para
reencontrá-la no futuro, depois de ter seus problemas resolvidos, sua vida
reestabelecida, filhos criados, tudo no futuro. Esperança percebeu que se tratava
da Ilusão e ela mais do que ninguém sabe que não se vive de futuro, tão pouco
de promessas futuras. Mais uma vez despediu-se, dessa vez ainda mais
entristecida e ao levantar-se daquele assento, decidiu seguir viagem sozinha.
Sentou-se em um banco vago e
passou a observar a paisagem do caminho.
Viu que o céu de inverno tem um
tom de azul vibrante e um sol reconfortante, mesmo quando o vento frio congela
a face. Então pensou, é assim que me sinto quando volto pra casa depois de um
dia difícil. Tenho cores vibrantes e conforto, quando estou entre os que me
amam.
Percebeu que algumas arvores de
troncos largos e folhas verdes não recebem todo o calor ou a luz do sol, na
verdade, só as folhas que estão no topo da árvore tem esse privilégio, mas
ainda assim, as folhas que estão escondidas mantêm-se verdes e vivas, porque
alimentam-se do calor e da vida de suas irmãs, e recebem do tronco rústico e
largo a água e tudo mais que precisam para que sejam felizes. Então lembrou-se dos
seus irmãos e amigos, que muitas vezes tem mais sorte que ela e do quanto se
sente feliz por eles. Pensou: “sou uma dessas folhas!”
Levantou os olhos e viu patos que
voavam numa formação perfeita, seguindo um líder e mesmo quando mudava a
liderança, não se deixavam perder ou abater, pois entre eles há confiança e
união. Desejou que um dia conseguisse sentir entre os seus, esta mesma
confiança e união. “Que bom seria...”
Depois de um tempo, perdida em
seus pensamentos, voltou seus olhos novamente para o vagão em que se encontrava
e percebeu que o lugar ao seu lado também estava vago e que na verdade, os
demais passageiros precisavam mais dela, do que ela deles. Sorriu e pensou “Estou
exatamente onde deveria estar e estarei disponível sempre e quando qualquer um
deles quiser sentar-se ao meu lado...”
Esperança segue viagem no Trem da
Vida diariamente, confortando corações, alimentando amores, acalmando
pensamentos e fazendo com que todos os que a procuram sintam-se felizes por
tê-la conhecido.
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