quinta-feira, 15 de maio de 2014

No Trem da Vida


Certo dia, a Esperança quis viver novas aventuras, conhecer novas pessoas, sentir novas emoções e decidiu se arriscar no Trem da Vida.

Chegou na Estação do Desejo e embarcou. Ansiosa, receosa e cheia de expectativas.

Ao entrar no vagão, viu que vários passageiros ocupavam bancos onde sempre havia um lugar vago, o que facilitava muito sua aproximação.

Criou coragem e sentou-se ao lado do primeiro passageiro.

Olá! Sou Esperança!

Oi! Sou a melhor pessoa que você poderia ter escolhido para se aproximar! Minha vida é cheia de vantagens e aventuras! Sou tudo aquilo que qualquer pessoa precisa para ser feliz! Não tenho defeitos, tão pouco fraquezas!” – À medida que iam se conhecendo, Esperança percebeu que tratava-se da Mentira, e, seu coração se encheu de dúvidas. Despediu-se gentilmente e passou a procurar outro assento, pois sabia que aquela pessoa jamais se mostraria e que provavelmente a decepcionaria num futuro bem proximo.

Sentou-se ao lado de outro passageiro.

“Oi! Me chamo Solidão!... – Depois de um longo silêncio, suspirou e voltou a conversar: “ Estou só há tanto tempo que já nem sei mais me expressar. Na verdade, sempre estou cercada de pessoas e coisas, mas algo me falta. Acho que gostaria muito de encontrar algo ou alguém que me tirasse esse vazio...  Será você?! – Esperança sentiu-se comovida e solidária, mas não poderia fazer nada para mudar o que a Solidão sentia, pois antes de mais nada, haveria necessidade de se sentir plena e isso é algo que não depende de ninguém além dela mesma. Então lhe deu um longo abraço e se despediu, dizendo que voltaria sempre e quando ela precisasse ou quisesse uma amiga.

Mais adiante havia outro passageiro.

“E aí?! Beleza?! Me chamo Liberdade! Se quiser, pode sentar-se ao meu lado, mas se não quiser, não tem problema! Sou livre de apegos, preconceitos, limites, tempo e espaço! Só fica comigo quem quer e quem não quer, não faz falta! Faço o que quero, como quero e quando quero! Muita gente me quer, mas poucos me tem, porque sou como sou e para muitos, sou demais. Pessoas precisam sempre se prender a algo, precisam sempre determinar coisas, delimitar e decidir e eu não quero nada disso! Sigo o vento, não tenho tempo! – Esperança achou a Liberdade linda e autentica, mas desapegada demais, displicente demais e ela queria o que todos querem. De repente percebeu que era totalmente dispensável à Liberdade e a sensação de não ser desejada ou necessária não a agradou. Então, despediu-se com pesar e seguiu seu caminho.

Em outro banco, encontrou um passageiro que lhe pareceu um sonho! Tinha tudo o que Esperança buscava! Falaram sobre música, teatro, amigos, filmes e pensamentos efêmeros. Sentiu-se confortável ao lado daquele passageiro! Havia encontrado o que sua alma desejava, o que em seus sonhos mais secretos pedia. Mas este lhe disse que não poderia ficar com ela, pois não estava pronto. Então fez planos para reencontrá-la no futuro, depois de ter seus problemas resolvidos, sua vida reestabelecida, filhos criados, tudo no futuro. Esperança percebeu que se tratava da Ilusão e ela mais do que ninguém sabe que não se vive de futuro, tão pouco de promessas futuras. Mais uma vez despediu-se, dessa vez ainda mais entristecida e ao levantar-se daquele assento, decidiu seguir viagem sozinha.

Sentou-se em um banco vago e passou a observar a paisagem do caminho.

Viu que o céu de inverno tem um tom de azul vibrante e um sol reconfortante, mesmo quando o vento frio congela a face. Então pensou, é assim que me sinto quando volto pra casa depois de um dia difícil. Tenho cores vibrantes e conforto, quando estou entre os que me amam.

Percebeu que algumas arvores de troncos largos e folhas verdes não recebem todo o calor ou a luz do sol, na verdade, só as folhas que estão no topo da árvore tem esse privilégio, mas ainda assim, as folhas que estão escondidas mantêm-se verdes e vivas, porque alimentam-se do calor e da vida de suas irmãs, e recebem do tronco rústico e largo a água e tudo mais que precisam  para que sejam felizes. Então lembrou-se dos seus irmãos e amigos, que muitas vezes tem mais sorte que ela e do quanto se sente feliz por eles. Pensou: “sou uma dessas folhas!”

Levantou os olhos e viu patos que voavam numa formação perfeita, seguindo um líder e mesmo quando mudava a liderança, não se deixavam perder ou abater, pois entre eles há confiança e união. Desejou que um dia conseguisse sentir entre os seus, esta mesma confiança e união. “Que bom seria...”

Depois de um tempo, perdida em seus pensamentos, voltou seus olhos novamente para o vagão em que se encontrava e percebeu que o lugar ao seu lado também estava vago e que na verdade, os demais passageiros precisavam mais dela, do que ela deles. Sorriu e pensou “Estou exatamente onde deveria estar e estarei disponível sempre e quando qualquer um deles quiser sentar-se ao meu lado...”


Esperança segue viagem no Trem da Vida diariamente, confortando corações, alimentando amores, acalmando pensamentos e fazendo com que todos os que a procuram sintam-se felizes por tê-la conhecido.

Nenhum comentário:

Postar um comentário