domingo, 30 de março de 2014

CORAGEM


Coragem é algo que surge em momentos específicos, que nasce e cresce de um frio no estomago, seguido de um impulso, um movimento, uma ação ou atitude, que pode ser sensata, pensada, ponderada ou não... pode ser simplesmente reativa.

Coragem é para poucos, na verdade, conheço muitas pessoas que sequer entendem o sentido da palavra.

Durante nossa caminhada nesta terra, temos inúmeras situações que vivenciamos durante nosso trajeto e que, podem ou não, definir se seremos memoráveis ou se simplesmente passaremos, tal qual milhares de outros andarilhos que cruzam nosso caminho ao longo dos anos.

Em minha adolescência, um garoto da minha turma decidiu pular de bungee jump. Me lembro de vê-lo subir os 45 metros no guindaste e quando estava lá no topo, gritei “Fernando, você é cardíaco!” ele respirou fundo e pulou, gritando um sonoro “Que se fodaaaa!”... Isso foi coragem ou estupidez?...

Conheço pessoas que mantem-se em empregos medíocres, ouvindo insultos e convivendo com chefes ignorantes, porque tem responsabilidades para com suas famílias, criação dos filhos, manter-se em dia com a sociedade... Seria isso sensatez ou covardia?!

E aqueles que mantem-se em relações fracassadas? Em casamentos que já não tem mais amor, nem respeito, nem admiração, tão pouco desejo?! Talvez só haja desejo, mas e o restante?! Uma casa só é realmente confiável e segura se há fundação e bons alicerces, caso contrario, não sustentará o peso do teto! E aí? São corajosos por não desistir? Ou covardes demais para assumirem seus erros e fracassos?!

Já caí muitas vezes, já fui à terra arrasada diversas vezes, já cheguei no meu limite incontáveis vezes, mas sempre me reergui. Sou valente? Ou incapaz de ter sucesso?...

Não sei dizer... Aliás, não sei responder a nenhuma dessas questões. Só sei dizer com toda certeza do mundo, que não sei viver pela metade, não sei me contentar com uma situação que considero errada ou falha por medo de assumir meus fracassos, não sei me contentar com um único dia de tristeza porque se este for meu ultimo dia de caminhada, então, terei findado meu caminho infeliz...

Jamais deixei de seguir meus instintos, porque mereço viver intensamente, sempre!

Jamais me contive, quando tinha certeza de que seria feliz, porque é só por isso que vivo!

Jamais neguei amor, também não me fechei para ele, porque é disso que sou feita...

Tenho orgulho em dizer que vivo cada dia como se fosse o ultimo e por isso, vivo plenamente, sem amarras, sem pudores, sem medos ou freios... Confesso que já fiz muita coisa errada e já e dei muito para quem não me merecia, mas tudo bem, porque aquele era meu ultimo dia que ficou pra trás e foi substituído pelo meu ultimo dia de hoje, que será vivido exatamente como deve e como eu coração mandar...

Há alguns dias, vivi uma história errada, com a pessoa que achei ser certa, no momento que parecia ser ideal...

Acontece que essa pessoa não era certa, o momento dele era de mentira e a história teve o fim certo...

(...)

E quanto a mim?! Todas as vezes que assumi meus erros e recomecei, será realmente coragem de recomeçar ou incapacidade de ter sucesso?!

Fernando não morreu no salto Bungee Jump, ao contrário! Deixou de ter medo de altura, de se arriscar e de tentar aquilo que outros dizem pra ele não fazer... Tornou-se um homem admirável!

Acho que coragem é isso! Confiar na corda, saltar sem pensar e gritar bem alto: 
 “QUE SE FODAAA!!!”

Brave

Wake up, wake up
The sun cannot wait for long

Reach out, reach out
Before it fades away.
You will find the warmth when you surrender
Smile into the fear and let it play…

You wanna run away? run away,
And you’ll say that it can’t be so.

You wanna look away? look away,
But you’ll stay, coz it’s oh so close.

When you stand up and hold out your hands.
In the face of what i don’t understand
A reason to be brave.

Hold on, hold on so strong
Time just carries on.

All that you thought was wrong
Is pure again.

You can’t hide forever from a fighter
Look into the storm and feel the rain…

You wanna run away? run away,
And you’ll say that it can’t be so.
You wanna look away? look away,
But you’ll stay, coz it’s oh so close.

When you stand up and hold out your hands
In the face of what i don’t understand
A reason to be brave

Go on, go on…

You wanna run away? run away,
And you’ll say that it can’t be so.
You wanna look away? look away,
But you’ll stay, coz it’s oh so close.

When you stand up and hold out your hands
In the face of what i don’t understand
A reason to be brave.

terça-feira, 25 de março de 2014

Ação e Reação



É a terceira lei de Newton: Para toda interação, na forma de força, que um corpo A aplica sobre um corpo B, dele A irá receber uma força de mesma direção, intensidade e sentido oposto.

Ou seja, toda ação provoca uma reação.

Cada vez que me pré-disponho a fazer algo, aceitar algo, colaborar com algo, ser co-participante de algo, ou conivente com algo, há a reação sobre minha decisão.

Se deliberadamente, decido viver algo que não me é cabido, obviamente, corro o risco da reação.

Se involuntariamente sou impelida a participar de algo, ainda que involuntariamente, sofro a reação.

Se impensadamente e insensatamente decido participar de algo que resultará numa onda gigante, devo estar preparada para a força, intensidade e agressividade da onda, munida de pés de pato, oxigênio e primeiros socorros.

Tenho essa consciência. Não sou ignorante dos fatos, tão pouco da lei de Newton que se aplica não só à física, mas a tudo o que é. É lei da vida!

O que não deve ocorrer, é a reação da reação ou ação sobre a reação, porque isso provocaria uma reação em cadeia e ao invés de uma onda, o que viria seria um tsunami!

Medo?! Covardia?! Não... sensatez...

Agora, a pergunta crucial é: Como evitar?!

Se alguém me beija de surpresa, sem que eu espere, esta pessoa tem duas opções de reação, a primeira é levar um empurrão ou um tapa e a segunda é simplesmente que eu retribua o beijo.

Se alguém me bate, também há duas opções de reação, sendo que a primeira seria revidar e a segunda seria simplesmente aceitar e chorar... sim, porque chorar também é uma reação. Aliás, até a falta de reação é uma reação, afinal foi resultado de uma escolha!

Certa vez li um livro do Paulo Coelho, Manual do Guerreiro da Luz, onde a proposta do autor era não julgar quando olhar, não revidar se tiver certeza de que o resultado ferirá alguém, mas sempre que possível, combater o bom combate, tal qual Timóteo nos ensinou.

Hoje decidi combater o bom combate de maneira diferenciada. Não haverá ação de minha parte, consequentemente, espero que não haja reação alguma... Mas corro o sério risco de que haja uma ação por parte de outro  ou outros em minha direção, afinal, somos seres em constante interação, mas ainda assim tentarei não reagir... e mesmo assim, sei que provocarei uma reação à minha falta de reação.... e lá vem o Tsunami!....




segunda-feira, 24 de março de 2014

STARDUST...


Sempre digo que uma dor imensa toma conta do meu corpo quando um sentimento é sufocado... é como chutar a quina do sofá e ter que reprimir o grito... ele fica ali, entalado, querendo sair, mas não pode...

Quando uma paixão deixa de ser vivida, quando um sentimento genuíno deixa de ser cultivado e alimentado, quando sufocamos o sentimento, ele definha e morre num canto escuro e triste da alma...

Acredito que esse essa morte, causa mais do que o desperdício da emoção. Acredito de verdade que algo se perde, uma luz celeste se apaga e o que era uma estrela viva e brilhante se torna só poeira... stardust...

Claro que passa! Sempre passa! Paixões nascem e morrem todos os dias! Estrelas também! Ainda bem!

Sentimentos assim, mesmo depois de mortos, deixam algo, talvez a tal poeira, que não passa disso, mas ainda assim, é algo...

Há sempre a possibilidade do desejo, mas sem vontade e obviamente, há a vontade sem o desejo... é isso que me entristece...

Se a morte do sentimento acontecesse da maneira correta, acredito que seria após uma longa conversa, um final de semana num lugar só dos dois, muito riso, muito carinho, talvez champanhe e por fim um adeus...

Mas sempre acontece da pior maneira possível, alguém diz adeus, o outro alguém chora, faz-se de conta que há ainda alguma importância, algum sentimento, afinal, assumir-se indiferente perante o mundo é algo vergonhoso, mas na verdade, é assim que é...

Hoje me dei conta que mais uma paixão morreu, mais uma estrela se apagou e mais uma vez o vento se encarregou de soprar pra longe, toda aquela poeira cinza e brilhante...

Ontem, conversando com um amigo muito querido, senti seu sofrimento, por amar e não ser correspondido, por desejar, mas não ter mais vontade, por ter guardado o que sobrou de sua estrela, antes que o vento se encarregasse de soprar...


O detalhe importante dessa história é que eu e ele já estivemos numa situação assim antes, mas era eu quem gostava e ele não me correspondia... Felizmente a vida é tão boa e gostosa de ser vivida, que guardei minha poeira de estrela e fiz dela um pingente de melhores amigos, então, o que vivemos se transformou numa coisa boa e hoje consigo amar de uma maneira diferente... torcendo para que consiga também transformar o que sente em algo bom, ou quem sabe, reavivar o que um dia foi estrela...

Não importa se por um ano, um mês, um dia ou uma hora, paixões vivem todos os dias e eu, por mais que sinta sua morte, agradeço por sua vida...

Minha ultima estrela caiu do céu, perdeu-se no mar de uma praia não muito longe daqui, onde meus pés ainda sentem a areia, onde meu cabelo ainda é levado pelo vento, onde meu sorriso é só saudade... 

Virou estrela do mar...


sexta-feira, 21 de março de 2014

Apenas Respire...


(a trilha sonora é Nina Simone – Feeling Good e nas taças, um espumante Château Grand Housteu)

Feche os olhos...

Apenas respire...

Não pense...

Apenas sinta...

Minhas mãos correm suas costas e sem que você espere, minhas unhas arranham suavemente sua pele, enquanto sussurro em seu ouvido o quanto te quero...
Sua respiração muda e eu mordo sua orelha, sentindo sua pele arrepiar...

Nos olhamos por um instante e então, você me segura pela cintura, me puxa pra si, me fazendo sentir seu desejo, pulsando, quente e descompassado...

Somos bichos, instintivos e impulsivos, nos movemos conforme o ritmo da música, nos sentimos no calor dos nossos corpos, nos alimentamos no sal de nosso suor...

Não há mundo, não há tempo, não há nada que nos faça sair de nós... nada mais importante do que sermos um do outro, até que sejamos um...

Você me provoca, me explora, tateando meu corpo, descobre pontos que me fazem gemer e me contorcer... e a cada gemido meu, seu desejo aumenta...

Nossos corpos se preenchem...

Cada espaço, que até então era meu ou seu, passa a ser nosso... estamos encaixados, nos completando, nos tomando, nos sentindo...

Apenas respire...

Não pense...

Apenas sinta...

 


 

 

quinta-feira, 20 de março de 2014

Foi só um sonho...

Hoje corri. 

Corri como não fazia há tempos. 

Corri de mim, corri do tempo, corri de tudo, afim de saturar meu corpo, afim de me esgotar fisicamente e causar dor física e assim sufocar a dor da alma.

Há 20 anos, eu e minha irmã estávamos passando pelo bairro onde morávamos e ela me apontou um rapaz e disse que ele havia sido sua paixão de infância, aquele por quem ela suspirava e pensava “um dia...”, daí rimos e ela me perguntou se eu tive alguém assim, porque todas as meninas se apaixonam por algum carinha mais velho. Me lembro de rir e apontar pro garoto que subia a rua de jeans e camiseta branca e dizer sem pensar duas vezes “ELE!”

20 anos é tempo demais... em 20 anos, vive-se uma vida ou várias como é o meu caso. Enquanto ele viveu um amor de vinte anos, eu vivi vinte amores de um ano...

Sempre fui assim, intensa, entregue e em constante busca por aquilo que nunca soube o que era até hoje.

Uma vez, aceitei carona de um estranho que me deu um bom conselho, que até mencionei em um dos meus textos passados.

Num outro momento, um outro aprendizado me foi dado gratuitamente e entendi o que significa “todo amor dorme numa caixa,  numa gaveta, numa sala escura que as vezes visito...” e desde então, tenho amores guardados em caixas, como também já disse em outro texto.

Neste momento, luto insistentemente para encontrar a caixa perfeita, a caixa que guardará este, que sinto hoje.

A parte ruim dessa história é que em todos os amores passados, aqueles que visito como Deneuve entre os pombos, eram amores e paixões por pessoas comuns. Não era o cara mais bonito da rua, eram só alguns caras que conheci entre minhas 20 histórias...

Mas, enquanto corria hoje, me dei conta de que luto para guardar algo que  não aconteceu de fato, algo que não vivi! Algo que imaginei, criei e me iludi... Sabe aqueles sonhos malucos que tenho de vez em quando e acordo achando que são verdades?! Então, acho que foi isso...

Em meu sonho, somos assim algo estranho ou magico, talvez estranhamente magico, talvez magicamente estranho.

Em meu sonho, nos olhamos, nos enxergamos, mas não nos vemos, não como gostaríamos, porque não é hora. Estamos em tempos diferentes, apesar de vivermos no mesmo tempo.

Em meu sonho, não sei se fomos feitos um para o outro, aliás, não sei nem porque fomos feitos, mas fomos!

E assim, feitos, nos encontramos, nos entregamos, nos deixamos.

Agora, acordada, não consigo esquecer o sonho, não consigo esquecer os momentos que imaginei viver e pior, agora, acordada, tenho que transformar esse cara que era especial, em mais um cara comum... mais uma das minhas 20 histórias...

Acho que é isso que mais me incomoda... fazê-lo tornar-se mais um, para que caiba numa caixa, numa gaveta ou numa sala escura...

Sempre tenho uma trilha sonora pra cada momento da minha vida. Tenho uma rádio cerebral e uma vasta sede de colocar o som ideal em tudo.

Sonhei que caminhávamos na praia e Ana Carolina cantava “Aqui, eu nunca disse que iria ser a pessoa certa pra você, mas sou eu quem te adora... Se fico um tempo sem te procurar, é pra saudade nos aproximar e eu já não vejo a hora... Eu não consigo esconder, certo ou errado, eu quero ter você! Você sabe que eu não sei jogar, não é meu dom representar.  Não dá pra disfarçar ...”

Sonhei que jantávamos e The Cramberries cantavam Dreams... I know I felt like this before, But now I'm feeling it even more Because it came from you”


Sonhei que estávamos tão próximos que ouvimos Phil Collins, trocamos confidencias, dormimos e acordamos sorrindo…

Me apaixonei pelo sonho... Então corri...

E, enquanto corria, chorei ouvindo U2... Did I disappoint you Or leave a bad taste in your mouth? You act like you never had love And you want me to go without… Did I ask too much? More than a lot? You gave me nothing now It's all I got”

Estranhamente, o rock que sempre me fez esquecer e superar tudo, hoje, só me faz pensar mais e mais nesse sonho...

Meu ultimo sonho foi com uma tarde segura num abraço forte e bom... sem pensar, sem querer nada mais do que estar ali... nunca tive um sonho tão real e tão intenso... não há música pra descrever esse momento... minha playlist seria longa... Pedro Mariano com Pode Ser, Luiza Possi com Nem Bem Acordo, U2 com With or Without You, Goo Goo Dolls com Iris... fechando com Negra Li dizendo que Vai Passar quando for a hora de passar...



Não escolhi a cor da caixa, nem consegui ainda fazer esse sonho se tornar uma história comum... mas tudo bem... Queria muito que não tivesse sido só um sonho, aliás, acho que hoje, queria não ter sonhado...

Depois da corrida, chorei no chuveiro... chorei de dor no corpo e na alma, chorei por não ser capaz de tocar um coração, porque só aprendi a tocar a carne... chorei porque foi só um sonho...

Uma vez escrevi que somos divididos em partes, pois assim fomos separados por um Deus invejoso, mas em nossa busca por nos sentirmos completos, acabamos nos dividindo mais, fazendo com que seja impossível realmente nos sentirmos completos.... 

Durante esse sonho, achei que havia encontrado uma parte minha, mas não... afinal, era só um sonho e minha parte não é minha, é de outra pessoa... meu desejo é de outra pessoa...

Foi só um sonho...



Meio Almodóvar


Lenine


Foi só um ensaio
Foi só um insight
Durou muito pouco
Doeu muito mais
Foi trailer de filme
Ensaio de orquestra
Foi jogo suspenso
No auge da festa
Foi curto e intenso
Canção de Caymmi
Foi meio Almodóvar
Foi meio Fellini
Foi como um cometa
No céu da cidade
Foi breve promessa
De felicidade
Eu morro de saudades do que era pra viver
E vivo da viagem de reencontrar você
Meus olhos do passado num futuro que nem sei
De tantas outras vidas
Mil pontos de partida
E todos os detalhes do que não aconteceu
Repetem o roteiro pra mostrar você e eu
O filme recomeça e nunca chega até o fim
E nessa nova vida
Não tem a despedida
Foi só a voz guia
Foi nem a metade
Foi estrela guia
Foi tanta verdade
Um mero rascunho
Mas foi divindade
Grafite no muro
Da minha saudade
Eu morro de saudades...

domingo, 9 de março de 2014

Mãos...


Minha mão direita é surrada, tem calos, suas unhas se quebram com facilidade, sua pele é meio áspera e seu esmalte não dura mais que dois dias. Ela tem força, determinação, iniciativa e tudo o que é necessário. Bate, se levanta para me defender, segura minha saia se o vento resolver chegar de surpresa, arruma meu cabelo, se machuca na porta que fecha inesperadamente, age e reage sempre que necessário. Ela limpa, cuida, alimenta, cura e se estende sempre que um sorriso amigável vem em minha direção.

 
Minha mão esquerda é delicada, tem unhas perfeitas, esmalte sempre impecável, dedos alongados e femininos, tem pele macia, sem marcas e sem calos. Minha mão esquerda não tem força, não abre sequer uma garrafinha de agua, é sensível a produtos de limpeza, não sabe bater, não sabe defender, não tem habilidade nenhuma a não ser a função de ser bonita. Nela, os anéis se encaixam perfeitamente, ela é quem experimenta perfumes que compro, cremes para minha hidratação, maquiagens em geral são todos testados nela. Ela não se estende quando me apresento, mas é através dela que meus beijos mais sinceros e doloridos são enviados pelo vento...

 
Uma tem inveja da outra, pois a direita acredita que a esquerda é melhor tratada, enquanto a esquerda acha que é colocada de lado, é considerada fraca e sensível demais...

Ambas tem razão, e não tem razão.

Tenho de cada uma o seu melhor e obviamente, também seu pior. A fraqueza da mão esquerda é compensada por sua graça e beleza. A aspereza da mão direita perde o sentido diante de sua força e utilidade.

No domingo à noite, ambas são igualmente cuidadas. Unhas lixadas, hidratadas, limpas e esmaltadas. Nesse momento, ambas são iguais em graça, beleza, perfume e cuidados, para que possam iniciar a semana devidamente apresentáveis.

Acredito que somos inteiramente compostos assim. Força e fraqueza, suavidade e aspereza, sensibilidade e instinto de preservação... Nosso ser como um todo é construído nessa dualidade, nessa polaridade, nesse formato tão complementar e perfeito.

Imagine se fossemos só aspereza e força, ou se fossemos só beleza e sensibilidade... Seriamos falhos, seriamos muito de uma só coisa e seriamos incompletos.

Obviamente demonstramos mais um lado ou outro quando necessário, em função de experiências, momentos ou vivencia, mas certamente, todos nós, seres, somos munidos de positivo e negativo, bem e mal, bom e mau, bonito e feio, direito e esquerdo, sim e não...

Infelizmente, tenho visto muitos nãos, maus, feios, esquerdos e negativos... pena mesmo...

Quem me conhece superficialmente, aperta minha mão direita de maneira rápida e sem grandes apegos.

Quem me conhece de verdade, quem se aproxima de verdade, se aconchega e tem o perfume da minha mão esquerda, mas tem também a proteção, a força, o impulso e tudo o que for necessário da mão direita.

 

 

 

quarta-feira, 5 de março de 2014

VERGONHA

Ontem, enquanto às voltas com tarefas domésticas, um vizinho decidiu que deveria compartilhar comigo seu péssimo gosto musical e a letra da música dizia coisas como “CARALHO, QUE GOSTOSO.... VEM AQUI CHUPÁ MINHA PIROCA...”

Eu, tendo duas crianças pequenas em casa, saí pra ver porque cargas d’agua o cidadão decidiu ligar o som dele tão alto, bem na frente da minha casa, e, para minha surpresa, ele não estava em frente de casa, mas sim, no final da rua, ou seja, estando há mais de 50 metros de distancia, o som do carro dele estava tão elevado, que parecia estar dentro da minha casa.

Pedi para que um dos meninos que estava andando de bicicleta em frente de casa descer a rua e pedir para o cidadão diminuir o volume do carro. Ele por sua vez, devolveu o recado, dizendo que não reduziria o volume e que se eu quisesse, poderia chamar a polícia. Não pensei duas vezes ao rir sarcasticamente e dizer para o garoto (da bicicleta que virou garoto de recados) que dissesse para o cidadão do som que eu faria isso sim e que quando a viatura chegasse, pra ele se lembrar que havia me dado permissão para tanto.
Entrei e minutos depois o som estava mais baixo.

Pensei no episódio o resto do dia. Primeiro desejando ter um dom mágico que me permitisse criar uma descarga elétrica no carro e estourasse as caixas de som, ou então, em ter força e habilidade de ninja ou algum guerreiro desses que a gente vê em filme, só pra dar um IÁ!, ou um HÁ! E em seguida um WUUUUU! Bem no meio da fuça do cidadão.

Depois fiquei pensando e repensando no que vivemos hoje, no que nos trouxe para o hoje e principalmente, no que seremos amanhã.

Lembrei-me da lambada, das danças que nós crianças tentávamos aprender, e de eu, e uma amiguinha de escola ficarmos dançando na calçada de casa. Daí me lembrei do grito de repreensão da minha mãe, porque menina de família não ficava dançando na calçada.

A moda da lambada passou, foi só moda de roupas estampadas, cabelos eletrizados, saias rodadas e muita ginga.

Também me recordo dos meus irmãos dançando samba-roque. Tão lindos! Aliás, ainda hoje quando toca em alguma festa, grudo na minha irmã porque ela dança muito bem.

Depois me lembro da moda do pagode, que veio com grupos como SPC, Fundo de Quintal, Raça Negra, Katinguelê e tantos outros que também passaram.

Claro que também me lembro que este movimento de funk começou com Tati Quebra Barraco, aquela a qual já me referi em texto passado (CULTURA OU FALTA DE?)   , mas nesse inicio, era funk insinuante, com duplo sentido e deboche, mas o funk de hoje, não tem duplo sentido, ele fala a que veio com todas as letras. Esse som de hoje instiga ao sexo, faz apologia as drogas, ao crime, ao que até onde sei, é ruim! 

Então penso no que aconteceu com o pudor, a censura, o grito dos pais que repreendiam e a vergonha das pessoas?!

Tenho amigos e amigas que amam funk, vivem funk e acham normal crianças de 10 anos falando palavrão e ouvindo músicas que falam “CARALHO VEM CHUPÁ MINHA PIROCA!”
Vejo meninas, que os garotos chamam de “NOVINHAS” também falando palavrão, se insinuando e fazendo parte deste movimento.
Assim como a lambada, o axé e o pagode passaram, tenho fé que o funk também vai passar, mas honestamente, está demorando demais isso!


Sabe o que é pior nisso tudo?! As pessoas que cantam esse funk, que encabeçam o movimento ou que fomentam essa moda/atitude, são os garotos que furtam celulares, que desrespeitam pessoas nas ruas, que cometem delitos de toda espécie! São traficantes, são ladrões, são infratores assumidos! Sim porque eles não se escondem e não negam sua natureza!

Nós que trabalhamos diariamente, que lutamos para mantermos nossos filhos e conquistarmos nossos bens materiais é que nos escondemos! Eles não! Eles tem orgulho de fazer parte desse movimento, desse momento, dessa moda! Os cantores são aqueles garotos e garotas que mal concluíram o ensino fundamental e frases como “VEM PO PAPAI VEM” viram hits de sucesso! Não há regra de escrita, tão pouco de rima! Basta que coma uma ou outra vogal, que tenha palavreado chulo e que obviamente, tenha aquele som irritante e agressivo.

Vejo filhos e filhas de amigos dançando, rebolando e se mostrando, enquanto seus pais, que são da mesma geração que eu, que tiveram a mesma cultura que eu, acham bonito! Será que só eu vejo e escuto o que é dito e feito?! Não há inocência nos movimentos, tão pouco respeito!
O cidadão do episódio de ontem, reduziu o volume, mas também pegou sua moto de escapamento furado e ficou dando voltas na frente da minha casa pra mostrar que o território era dele, para tentar me intimidar. Percebe o absurdo?!

Quando eu era criança, minha mãe e as outras mães da rua, apoiavam umas às outras e jamais deixavam que nós, crianças da rua, fizéssemos qualquer coisa que fosse desrespeitosa ou ofensiva. Hoje, essas mesmas mães não tem mais poder ou voz ativa na rua. Elas se escondem atrás das grades e dos portões de casa.

Eu, infelizmente, não tenho o poder do raio, nem do WUUUU, também não consigo colocar paredes anti-ruido em casa, se bem que adoraria conseguir erguer paredes anti-ruido no mundo, mas não posso!
Não posso pedir para a policia, governantes ou quem quer que esteja acima de mim, dar um jeito nos pontos de drogas que se instalaram no bairro onde moro, também não consigo fazer com que haja respeito ou censura, então, o que me resta fazer?!

Me resta assistir com tristeza e apreensão o que está sendo feito dessas meninas e meninos.

Este texto obviamente ofenderá algumas pessoas que conheço, mas gostaria muito de pedir para cada um dos leitores, que antes de se ofender, olhe para o bairro onde mora, depois estenda um pouco mais e olhe para sua região, para sua cidade, para seu estado e por fim para seu país. Não é só o funk, mas o todo! Atitude, falta de amor ao próximo, falta de comprometimento, falta de cuidado, falta de respeito consigo e com o próximo... tudo!

O garoto que rouba meu celular, pode ser o garoto da moto com escapamento furado, que também pode ser o que aumenta o som no final da rua pra me agredir com seu som abusivo e ofensivo, que também pode ser seu filho amanhã, ou meu filho, ou seu irmão, ou meu irmão, ou namorado da sua filha, ou sua filha...



E aí?! Ainda acha bonito ver e ouvir funk?!