Minha mão direita é surrada, tem
calos, suas unhas se quebram com facilidade, sua pele é meio áspera e seu
esmalte não dura mais que dois dias. Ela tem força, determinação, iniciativa e
tudo o que é necessário. Bate, se levanta para me defender, segura minha saia
se o vento resolver chegar de surpresa, arruma meu cabelo, se machuca na porta
que fecha inesperadamente, age e reage sempre que necessário. Ela limpa, cuida,
alimenta, cura e se estende sempre que um sorriso amigável vem em minha
direção.
Minha mão esquerda é delicada,
tem unhas perfeitas, esmalte sempre impecável, dedos alongados e femininos, tem
pele macia, sem marcas e sem calos. Minha mão esquerda não tem força, não abre
sequer uma garrafinha de agua, é sensível a produtos de limpeza, não sabe
bater, não sabe defender, não tem habilidade nenhuma a não ser a função de ser
bonita. Nela, os anéis se encaixam perfeitamente, ela é quem experimenta
perfumes que compro, cremes para minha hidratação, maquiagens em geral são
todos testados nela. Ela não se estende quando me apresento, mas é através dela
que meus beijos mais sinceros e doloridos são enviados pelo vento...
Uma tem inveja da outra, pois a
direita acredita que a esquerda é melhor tratada, enquanto a esquerda acha que
é colocada de lado, é considerada fraca e sensível demais...
Ambas tem razão, e não tem razão.
Tenho de cada uma o seu melhor e
obviamente, também seu pior. A fraqueza da mão esquerda é compensada por sua
graça e beleza. A aspereza da mão direita perde o sentido diante de sua força e
utilidade.
No domingo à noite, ambas são
igualmente cuidadas. Unhas lixadas, hidratadas, limpas e esmaltadas. Nesse
momento, ambas são iguais em graça, beleza, perfume e cuidados, para que possam
iniciar a semana devidamente apresentáveis.
Acredito que somos inteiramente
compostos assim. Força e fraqueza, suavidade e aspereza, sensibilidade e
instinto de preservação... Nosso ser como um todo é construído nessa dualidade,
nessa polaridade, nesse formato tão complementar e perfeito.
Imagine se fossemos só aspereza e
força, ou se fossemos só beleza e sensibilidade... Seriamos falhos, seriamos
muito de uma só coisa e seriamos incompletos.
Obviamente demonstramos mais um
lado ou outro quando necessário, em função de experiências, momentos ou
vivencia, mas certamente, todos nós, seres, somos munidos de positivo e
negativo, bem e mal, bom e mau, bonito e feio, direito e esquerdo, sim e não...
Infelizmente, tenho visto muitos
nãos, maus, feios, esquerdos e negativos... pena mesmo...
Quem me conhece superficialmente,
aperta minha mão direita de maneira rápida e sem grandes apegos.
Quem me conhece de verdade, quem
se aproxima de verdade, se aconchega e tem o perfume da minha mão esquerda, mas
tem também a proteção, a força, o impulso e tudo o que for necessário da mão
direita.
Mãos inesquecíveis... Belas e delicadas... Num formato perfeito..
ResponderExcluir