Ontem, enquanto às voltas com
tarefas domésticas, um vizinho decidiu que deveria compartilhar comigo seu
péssimo gosto musical e a letra da música dizia coisas como “CARALHO, QUE
GOSTOSO.... VEM AQUI CHUPÁ MINHA PIROCA...”
Eu, tendo duas crianças pequenas
em casa, saí pra ver porque cargas d’agua o cidadão decidiu ligar o som dele
tão alto, bem na frente da minha casa, e, para minha surpresa, ele não estava
em frente de casa, mas sim, no final da rua, ou seja, estando há mais de 50
metros de distancia, o som do carro dele estava tão elevado, que parecia estar
dentro da minha casa.
Pedi para que um dos meninos que
estava andando de bicicleta em frente de casa descer a rua e pedir para o
cidadão diminuir o volume do carro. Ele por sua vez, devolveu o recado, dizendo
que não reduziria o volume e que se eu quisesse, poderia chamar a polícia. Não
pensei duas vezes ao rir sarcasticamente e dizer para o garoto (da bicicleta
que virou garoto de recados) que dissesse para o cidadão do som que eu faria
isso sim e que quando a viatura chegasse, pra ele se lembrar que havia me dado
permissão para tanto.
Entrei e minutos depois o som
estava mais baixo.
Pensei no episódio o resto do
dia. Primeiro desejando ter um dom mágico que me permitisse criar uma descarga elétrica
no carro e estourasse as caixas de som, ou então, em ter força e habilidade de
ninja ou algum guerreiro desses que a gente vê em filme, só pra dar um IÁ!, ou
um HÁ! E em seguida um WUUUUU! Bem no meio da fuça do cidadão.
Depois fiquei pensando e
repensando no que vivemos hoje, no que nos trouxe para o hoje e principalmente,
no que seremos amanhã.
Lembrei-me da lambada, das danças
que nós crianças tentávamos aprender, e de eu, e uma amiguinha de escola
ficarmos dançando na calçada de casa. Daí me lembrei do grito de repreensão da
minha mãe, porque menina de família não ficava dançando na calçada.
A moda da lambada passou, foi só
moda de roupas estampadas, cabelos eletrizados, saias rodadas e muita ginga.
Também me recordo dos meus irmãos
dançando samba-roque. Tão lindos! Aliás, ainda hoje quando toca em alguma
festa, grudo na minha irmã porque ela dança muito bem.
Depois me lembro da moda do
pagode, que veio com grupos como SPC, Fundo de Quintal, Raça Negra, Katinguelê
e tantos outros que também passaram.
Claro que também me lembro que
este movimento de funk começou com Tati Quebra Barraco, aquela a qual já me
referi em texto passado (CULTURA OU FALTA DE?) ,
mas nesse inicio, era funk insinuante, com duplo sentido e deboche, mas o funk
de hoje, não tem duplo sentido, ele fala a que veio com todas as letras. Esse
som de hoje instiga ao sexo, faz apologia as drogas, ao crime, ao que até onde
sei, é ruim!
Então penso no que aconteceu com o pudor, a censura, o grito dos
pais que repreendiam e a vergonha das pessoas?!
Tenho amigos e amigas que amam
funk, vivem funk e acham normal crianças de 10 anos falando palavrão e ouvindo
músicas que falam “CARALHO VEM CHUPÁ MINHA PIROCA!”
Vejo meninas, que os garotos
chamam de “NOVINHAS” também falando palavrão, se insinuando e fazendo parte
deste movimento.
Assim como a lambada, o axé e o
pagode passaram, tenho fé que o funk também vai passar, mas honestamente, está
demorando demais isso!
Sabe o que é pior nisso tudo?! As
pessoas que cantam esse funk, que encabeçam o movimento ou que fomentam essa
moda/atitude, são os garotos que furtam celulares, que desrespeitam pessoas nas
ruas, que cometem delitos de toda espécie! São traficantes, são ladrões, são
infratores assumidos! Sim porque eles não se escondem e não negam sua natureza!
Nós que trabalhamos diariamente,
que lutamos para mantermos nossos filhos e conquistarmos nossos bens materiais
é que nos escondemos! Eles não! Eles tem orgulho de fazer parte desse
movimento, desse momento, dessa moda! Os cantores são aqueles garotos e garotas
que mal concluíram o ensino fundamental e frases como “VEM PO PAPAI VEM” viram
hits de sucesso! Não há regra de escrita, tão pouco de rima! Basta que coma uma
ou outra vogal, que tenha palavreado chulo e que obviamente, tenha aquele som
irritante e agressivo.
Vejo filhos e filhas de amigos
dançando, rebolando e se mostrando, enquanto seus pais, que são da mesma
geração que eu, que tiveram a mesma cultura que eu, acham bonito! Será que só
eu vejo e escuto o que é dito e feito?! Não há inocência nos movimentos, tão
pouco respeito!
O cidadão do episódio de ontem,
reduziu o volume, mas também pegou sua moto de escapamento furado e ficou dando
voltas na frente da minha casa pra mostrar que o território era dele, para
tentar me intimidar. Percebe o absurdo?!
Quando eu era criança, minha mãe
e as outras mães da rua, apoiavam umas às outras e jamais deixavam que nós,
crianças da rua, fizéssemos qualquer coisa que fosse desrespeitosa ou ofensiva.
Hoje, essas mesmas mães não tem mais poder ou voz ativa na rua. Elas se
escondem atrás das grades e dos portões de casa.
Eu, infelizmente, não tenho o
poder do raio, nem do WUUUU, também não consigo colocar paredes anti-ruido em
casa, se bem que adoraria conseguir erguer paredes anti-ruido no mundo, mas não
posso!
Não posso pedir para a policia,
governantes ou quem quer que esteja acima de mim, dar um jeito nos pontos de
drogas que se instalaram no bairro onde moro, também não consigo fazer com que
haja respeito ou censura, então, o que me resta fazer?!
Me resta assistir com tristeza e
apreensão o que está sendo feito dessas meninas e meninos.
Este texto obviamente ofenderá
algumas pessoas que conheço, mas gostaria muito de pedir para cada um dos
leitores, que antes de se ofender, olhe para o bairro onde mora, depois estenda
um pouco mais e olhe para sua região, para sua cidade, para seu estado e por
fim para seu país. Não é só o funk, mas o todo! Atitude, falta de amor ao
próximo, falta de comprometimento, falta de cuidado, falta de respeito consigo
e com o próximo... tudo!
O garoto que rouba meu celular,
pode ser o garoto da moto com escapamento furado, que também pode ser o que
aumenta o som no final da rua pra me agredir com seu som abusivo e ofensivo,
que também pode ser seu filho amanhã, ou meu filho, ou seu irmão, ou meu irmão,
ou namorado da sua filha, ou sua filha...
E aí?! Ainda acha bonito ver e
ouvir funk?!
Concordo plenamente. Não ouço, não danço este tipo de funk que tem como única função denegrir e inferiorizar as mulheres... Sexo é bom e todo mundo gosta, mas vai precisa ficar esfregando às práticas sexuais nas suas diversas.formas nas.nossas caras, de nossas famílias. Me sinto envergonhada como mulher, como.cidadã.
ResponderExcluirCompartilho da sua indignação, pois onde moro hoje acontece a mesma coisa e beira a falta de respeito ao próximo!!! Exatamente como você citou, algumas pessoas e seus carros com aparelhos de som potente ligados ao máximo, com um tipo de música que nada dizem ou contribuem para o crescimento intelectual de qualquer ser humano! Mas não recrimino o fato de ouvirem o tal do funk, apesar de concordar que é uma música ruim do ca...lho e que cada um faz o que bem entende do seu ouvido, mas o fato de ouvirem este tipo de música, invadindo sem o menor pudor, a nossa privacidade!! E também, quando vamos com toda a educação que nos foi dada pelos nossos pais, pedir para que abaixem um pouco o som que estão ouvindo e, assim, na visão deles, passamos a ser os “errados” na história toda passando assim a invadir a privacidade deles.... Um absurdo total!!!
ResponderExcluirTemos em nossa sociedade de uma forma geral, uma inversão de valores tão grande que pessoas como as do carro de som aí da rua onde você mora ou aqui onde moro, fazem o que querem, a polícia vem e troca meia dúzia de palavras e fica naquele tradicional "você, dono do carro de som, finge que abaixa o volume e eu, policial, finjo que acredito" e alguns minutos após a polícia dar as costas tudo volta a ser como antes. Uma nítida falta de respeito aos direitos de nós cidadãos de bem que só queremos nosso direito de viver em paz respeitado!
E detalhe... A alguns dias atrás estive aí na casa dos meus pais e estavam me contando destes mesmos caras e seus carros com som potente. Fiquei imaginando o tempo quando Eu, e a galera da mesma idade que eu, aí da rua onde você mora hoje (você sabe de quem estou falando!! rs) ficávamos na garagem da minha casa ou na casa de qualquer outro da "turma" com um simples aparelho se som portátil curtindo nossas músicas sem incomodar sequer o vizinho da casa ao lado. E ficávamos ali até altas horas da madrugada, porque tínhamos em cada um de nós o mesmo sentimento de respeito ao próximo. Até mesmo porque se em qualquer momento, qualquer um de nós ultrapassássemos o limite tolerável de barulho, já ouvíamos da minha mãe ou da sua mãe, ou da mãe de qualquer outro da turma um sonoro "abaixo este som menino!!!!" O que era suficiente para as coisas voltarem imediatamente á normalidade!! Coisa que infelizmente, em muitas famílias já não existe mais...