Hoje corri.
Corri como não fazia
há tempos.
Corri de mim, corri do tempo, corri de tudo, afim de saturar meu
corpo, afim de me esgotar fisicamente e causar dor física e assim sufocar a dor
da alma.
Há 20 anos, eu e minha irmã
estávamos passando pelo bairro onde morávamos e ela me apontou um rapaz e disse
que ele havia sido sua paixão de infância, aquele por quem ela suspirava e
pensava “um dia...”, daí rimos e ela me perguntou se eu tive alguém assim,
porque todas as meninas se apaixonam por algum carinha mais velho. Me lembro de
rir e apontar pro garoto que subia a rua de jeans e camiseta branca e dizer sem
pensar duas vezes “ELE!”
20 anos é tempo demais... em 20
anos, vive-se uma vida ou várias como é o meu caso. Enquanto ele viveu um amor
de vinte anos, eu vivi vinte amores de um ano...
Sempre fui assim, intensa,
entregue e em constante busca por aquilo que nunca soube o que era até hoje.
Uma vez, aceitei carona de um
estranho que me deu um bom conselho, que até mencionei em um dos meus textos
passados.
Num outro momento, um outro
aprendizado me foi dado gratuitamente e entendi o que significa “todo amor
dorme numa caixa, numa gaveta, numa sala
escura que as vezes visito...” e desde então, tenho amores guardados em caixas,
como também já disse em outro texto.
Neste momento, luto
insistentemente para encontrar a caixa perfeita, a caixa que guardará este, que
sinto hoje.
A parte ruim dessa história é que
em todos os amores passados, aqueles que visito como Deneuve entre os pombos,
eram amores e paixões por pessoas comuns. Não era o cara mais bonito da rua,
eram só alguns caras que conheci entre minhas 20 histórias...
Mas, enquanto corria hoje, me dei
conta de que luto para guardar algo que
não aconteceu de fato, algo que não vivi! Algo que imaginei, criei e me
iludi... Sabe aqueles sonhos malucos que tenho de vez em quando e acordo
achando que são verdades?! Então, acho que foi isso...
Em meu sonho, somos assim algo
estranho ou magico, talvez estranhamente magico, talvez magicamente estranho.
Em meu sonho, nos olhamos, nos
enxergamos, mas não nos vemos, não como gostaríamos, porque não é hora. Estamos
em tempos diferentes, apesar de vivermos no mesmo tempo.
Em meu sonho, não sei se fomos
feitos um para o outro, aliás, não sei nem porque fomos feitos, mas fomos!
E assim, feitos, nos encontramos,
nos entregamos, nos deixamos.
Agora, acordada, não consigo
esquecer o sonho, não consigo esquecer os momentos que imaginei viver e pior,
agora, acordada, tenho que transformar esse cara que era especial, em mais um
cara comum... mais uma das minhas 20 histórias...
Acho que é isso que mais me
incomoda... fazê-lo tornar-se mais um, para que caiba numa caixa, numa gaveta
ou numa sala escura...
Sempre tenho uma trilha sonora
pra cada momento da minha vida. Tenho uma rádio cerebral e uma vasta sede de
colocar o som ideal em tudo.
Sonhei que caminhávamos na praia
e Ana Carolina cantava “Aqui, eu
nunca disse que iria ser a pessoa certa pra você, mas sou eu quem te adora... Se
fico um tempo sem te procurar, é pra saudade nos aproximar e eu já não vejo a
hora... Eu não consigo esconder, certo ou errado, eu quero ter você! Você sabe
que eu não sei jogar, não é meu dom representar. Não dá pra disfarçar ...”
Sonhei que jantávamos e The Cramberries cantavam Dreams... “I know I felt like this before, But now I'm feeling it even more Because it came from you”
Sonhei que estávamos tão próximos
que ouvimos Phil Collins, trocamos confidencias, dormimos e acordamos sorrindo…
Me apaixonei pelo sonho... Então
corri...
E, enquanto corria, chorei ouvindo U2... “Did I disappoint you Or leave a bad taste
in your mouth? You act like you never had love And you want me to
go without… Did I ask too much? More than a lot? You gave me nothing now It's all I got”
Estranhamente,
o rock que sempre me fez esquecer e superar tudo, hoje, só me faz pensar mais e
mais nesse sonho...
Meu ultimo sonho foi com uma
tarde segura num abraço forte e bom... sem pensar, sem querer nada mais do que
estar ali... nunca tive um sonho tão real e tão intenso... não há música pra
descrever esse momento... minha playlist seria longa... Pedro Mariano com Pode
Ser, Luiza Possi com Nem Bem Acordo, U2 com With or Without You, Goo Goo Dolls
com Iris... fechando com Negra Li dizendo que Vai Passar quando for a hora de
passar...
Não escolhi a cor da caixa, nem
consegui ainda fazer esse sonho se tornar uma história comum... mas tudo bem...
Queria muito que não tivesse sido só um sonho, aliás, acho que hoje, queria não
ter sonhado...
Depois da corrida, chorei no
chuveiro... chorei de dor no corpo e na alma, chorei por não ser capaz de tocar
um coração, porque só aprendi a tocar a carne... chorei porque foi só um
sonho...
Uma vez escrevi que somos
divididos em partes, pois assim fomos separados por um Deus invejoso, mas em
nossa busca por nos sentirmos completos, acabamos nos dividindo mais, fazendo
com que seja impossível realmente nos sentirmos completos....
Durante esse
sonho, achei que havia encontrado uma parte minha, mas não... afinal, era só um
sonho e minha parte não é minha, é de outra pessoa... meu desejo é de outra
pessoa...
Foi só um sonho...
Foi só um ensaio
Foi só um insight
Durou muito pouco
Doeu muito mais
Foi trailer de filme
Ensaio de orquestra
Foi jogo suspenso
No auge da festa
Foi curto e intenso
Canção de Caymmi
Foi meio Almodóvar
Foi meio Fellini
Foi como um cometa
No céu da cidade
Foi breve promessa
De felicidade
Eu morro de saudades do que era pra viver
E vivo da viagem de reencontrar você
Meus olhos do passado num futuro que nem sei
De tantas outras vidas
Mil pontos de partida
E todos os detalhes do que não aconteceu
Repetem o roteiro pra mostrar você e eu
O filme recomeça e nunca chega até o fim
E nessa nova vida
Não tem a despedida
Foi só a voz guia
Foi nem a metade
Foi estrela guia
Foi tanta verdade
Um mero rascunho
Mas foi divindade
Grafite no muro
Da minha saudade
Eu morro de saudades...
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