Tenho pensado muito sobre tudo
aquilo que é dito sobre mim e para mim e percebi que não digo tudo o que penso. Aliás, não gosto de escrever nada muito pessoal, nada muito na primeira pessoa, mas hoje, preciso fazer isso.
Não vomito nas pessoas meus
sentimentos, pensamentos, frustrações e expectativas, como fazem comigo. Porque
vômito tem cheiro ruim, aspecto horrível e causa nojo, náusea, espanto, reações
imprevisíveis e pena, muita pena.
Não sei se uma dose maciça de
amor próprio ou instinto de proteção, mas há em mim, algo que não me deixa
fazer isso, até porque, corro o risco de machucar pessoas e quem me conhece,
sabe que penso um zilhão de vezes antes de dizer algo que pode ofender,
machucar, magoar ou causar qualquer sentimento ruim.
Ouço mais do que falo.
Além disso, vivo minha vida tão
intensamente, que não tenho tempo para reparar na vida do outro a ponto de me
incomodar e vomitar meus pensamentos.
Tenho crises monstruosas de
enxaqueca por conta de todo o vômito represado.
Então hoje, em meio à maior crise
de todas, me vi pensando no vômito dos outros e no que causam em mim.
Enxaqueca!
Me lembrei do homem que vive
triste, solitário, sempre tão cercado de gente e tão só, que faz questão de
manter comigo uma relação ilusória e me cobra sentimentos, reações,
realizações. Tanto a ponto de se incomodar com minha presença ou ausência,
então vomita em mim suas frustrações, suas expectativas, seus medos, seu pedido
de socorro e eu, ausente do mundo, passo a impressão de ser e estar ausente
somente do mundo dele, então o vômito dele começa a feder de tal maneira que me
incomoda e penso em me fazer presente, mas me contenho, porque isso causaria
outros vômitos e mais náusea, mais nojo, mais espanto e mais pena... de minha
parte e dele.
Me lembrei da garota tatuada que
de vez em quando me escreve, ou liga, e
que tento fazer de conta que não percebo sua insistência, sua presença
constante, sua necessidade de colocar pra fora tudo o que pensa, sente, quer e
vomitar pro mundo inteiro saber quem é. Na verdade, esse é mais um vômito que tento
evitar, porque seria ácido, corrosivo, nocivo e certamente me causaria a pior
das reações.
Também pensei em tudo o que
deixei de dizer praquele que um dia fez parte da minha vida, que causou dores
imensas, que me deu meus maiores amores, mas também meus maiores medos. Pensei
em tudo o que ele vomitou várias vezes. Sopas de letrinhas sem significado
algum, letras de músicas bregas e sentimentos inexistentes. Juras falsas de um
amor vazio. Não vomitei, nem ouso vomitar tudo o que contive e represei, porque
acho que seria também devastador, mas mais do que isso, desgastante e de
verdade, não vale a pena me desgastar mais.
Pensei em todas as pessoas falsas
e vazias que encontrei, todas as provocações que não respondi, todos os
insultos que não revidei, todos os tombos, tapas e pontapés que levei calada,
sem emitir um único ruído.
Orgulho-me em dizer que não
escondo e jamais escondi nenhum dos meus defeitos, nenhum dos meus erros e por
isso, por ser transparente, autentica e verdadeira, me tornei vidraça. Vidraça
onde vomitam, jogam pedras, sujeiras aos montes e tudo o que há de ruim.
Não sou santa, nem pura, só sou
ponderada e sei que não vim ao mundo para insultar, ofender, magoar ou apontar
defeitos de ninguém, então, mantendo-me assim, acabo também me tornando frágil
e alvo fácil.
O que escrevo aqui, nem sempre é
compreendido. Aliás, o que escrevo aqui é alvo de análise minuciosa daqueles
que querem me conhecer, mas mais do que isso, daqueles que querem se munir de
informação sobre mim.
Sinto-me no dever de informar que
o que aqui está é somente uma parte mínima de pensamentos, de situações, de
vivencias e desejos, realizados ou não, mas que de forma alguma, em tempo algum
me definem como pessoa, como ser humano e como mulher.
Vomito agora aqui, minha
surpresa, indignação, náusea, nojo e tudo de ruim, por descobrir que amor e
admiração não são, nem jamais serão itens inerentes à família, tão pouco a
amigos, ou quaisquer pessoas que proclamam amor, aliás, nem amor é inerente à família
e amigos, ou ao tal amor romântico.
Amor conhece defeitos, mas
entende que as qualidades superam esses defeitos. Amor não cutuca feridas. Amor
impulsiona, arrasta, empurra pra frente e pra cima, jamais pra baixo.
Peço um milhão de desculpas ao
homem e à garota tatuada porque não posso ser o que esperam de mim e por
amá-los, não julgo, não aponto seus defeitos, não cutuco suas feridas. Em meu
silêncio, torço e espero pacientemente que minha forma de amar os impulsione,
arraste e empurre para frente e para cima.
Quanto ao resto, sinto muito, mas
ainda terei que conviver com o fedor de seu vômito, com a acidez de seu veneno
e espero de verdade, continuar tendo forças para manter minha vidraça inteira,
limpando-a diariamente.