quinta-feira, 24 de julho de 2014

VOMITANDO


Tenho pensado muito sobre tudo aquilo que é dito sobre mim e para mim e percebi que não digo tudo o que penso. Aliás, não gosto de escrever nada muito pessoal, nada muito na primeira pessoa, mas hoje, preciso fazer isso.

Não vomito nas pessoas meus sentimentos, pensamentos, frustrações e expectativas, como fazem comigo. Porque vômito tem cheiro ruim, aspecto horrível e causa nojo, náusea, espanto, reações imprevisíveis e pena, muita pena.

Não sei se uma dose maciça de amor próprio ou instinto de proteção, mas há em mim, algo que não me deixa fazer isso, até porque, corro o risco de machucar pessoas e quem me conhece, sabe que penso um zilhão de vezes antes de dizer algo que pode ofender, machucar, magoar ou causar qualquer sentimento ruim.

Ouço mais do que falo.

Além disso, vivo minha vida tão intensamente, que não tenho tempo para reparar na vida do outro a ponto de me incomodar e vomitar meus pensamentos.

Tenho crises monstruosas de enxaqueca por conta de todo o vômito represado.

Então hoje, em meio à maior crise de todas, me vi pensando no vômito dos outros e no que causam em mim. Enxaqueca!

Me lembrei do homem que vive triste, solitário, sempre tão cercado de gente e tão só, que faz questão de manter comigo uma relação ilusória e me cobra sentimentos, reações, realizações. Tanto a ponto de se incomodar com minha presença ou ausência, então vomita em mim suas frustrações, suas expectativas, seus medos, seu pedido de socorro e eu, ausente do mundo, passo a impressão de ser e estar ausente somente do mundo dele, então o vômito dele começa a feder de tal maneira que me incomoda e penso em me fazer presente, mas me contenho, porque isso causaria outros vômitos e mais náusea, mais nojo, mais espanto e mais pena... de minha parte e dele.

Me lembrei da garota tatuada que de vez em quando me escreve, ou liga,  e que tento fazer de conta que não percebo sua insistência, sua presença constante, sua necessidade de colocar pra fora tudo o que pensa, sente, quer e vomitar pro mundo inteiro saber quem é. Na verdade, esse é mais um vômito que tento evitar, porque seria ácido, corrosivo, nocivo e certamente me causaria a pior das reações.

Também pensei em tudo o que deixei de dizer praquele que um dia fez parte da minha vida, que causou dores imensas, que me deu meus maiores amores, mas também meus maiores medos. Pensei em tudo o que ele vomitou várias vezes. Sopas de letrinhas sem significado algum, letras de músicas bregas e sentimentos inexistentes. Juras falsas de um amor vazio. Não vomitei, nem ouso vomitar tudo o que contive e represei, porque acho que seria também devastador, mas mais do que isso, desgastante e de verdade, não vale a pena me desgastar mais.

Pensei em todas as pessoas falsas e vazias que encontrei, todas as provocações que não respondi, todos os insultos que não revidei, todos os tombos, tapas e pontapés que levei calada, sem emitir um único ruído.
Orgulho-me em dizer que não escondo e jamais escondi nenhum dos meus defeitos, nenhum dos meus erros e por isso, por ser transparente, autentica e verdadeira, me tornei vidraça. Vidraça onde vomitam, jogam pedras, sujeiras aos montes e tudo o que há de ruim.

Não sou santa, nem pura, só sou ponderada e sei que não vim ao mundo para insultar, ofender, magoar ou apontar defeitos de ninguém, então, mantendo-me assim, acabo também me tornando frágil e alvo fácil.

O que escrevo aqui, nem sempre é compreendido. Aliás, o que escrevo aqui é alvo de análise minuciosa daqueles que querem me conhecer, mas mais do que isso, daqueles que querem se munir de informação sobre mim.

Sinto-me no dever de informar que o que aqui está é somente uma parte mínima de pensamentos, de situações, de vivencias e desejos, realizados ou não, mas que de forma alguma, em tempo algum me definem como pessoa, como ser humano e como mulher.

Vomito agora aqui, minha surpresa, indignação, náusea, nojo e tudo de ruim, por descobrir que amor e admiração não são, nem jamais serão itens inerentes à família, tão pouco a amigos, ou quaisquer pessoas que proclamam amor, aliás, nem amor é inerente à família e amigos, ou ao tal amor romântico.

Amor conhece defeitos, mas entende que as qualidades superam esses defeitos. Amor não cutuca feridas. Amor impulsiona, arrasta, empurra pra frente e pra cima, jamais pra baixo.

Peço um milhão de desculpas ao homem e à garota tatuada porque não posso ser o que esperam de mim e por amá-los, não julgo, não aponto seus defeitos, não cutuco suas feridas. Em meu silêncio, torço e espero pacientemente que minha forma de amar os impulsione, arraste e empurre para frente e para cima.


Quanto ao resto, sinto muito, mas ainda terei que conviver com o fedor de seu vômito, com a acidez de seu veneno e espero de verdade, continuar tendo forças para manter minha vidraça inteira, limpando-a diariamente.

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