terça-feira, 8 de julho de 2014

Qual a sua cor - parte 2


Recentemente, escrevi minha opinião sobre diferenças raciais, defendendo obviamente que a diferença realmente importante, é a de caráter, e não de cor de pele. Pois bem, alguém que tenho aprendido a conhecer, respeitar e admirar, me desafiou a escrever minha opinião sobre o que significa ser negro no Brasil.

Confesso que esta é uma tarefa difícil, pois a pessoa que me desafiou é profundo conhecedor do assunto, lida com questões raciais e principalmente, ostenta orgulhosamente sua linda cor e sua cabeleira afro.

Ok! Desafio aceito! Vamos lá!

Creio que o Brasil seja de fato um país preconceituoso e racista.

Gosto muito de fazer analogias em meus textos, trazendo para uma visão micro, um assunto macro, porque não há nada melhor do que dissertar sobre aquilo que conhecemos, não é mesmo?!

Em meu texto anterior, mencionei a mistura racial contida em minha família, tendo um bisavô índio, uma bisavó portuguesa, uma avó branca de cabelos negros lisos, que casou-se com meu avô italiano loiro de olhos azuis. Pois bem, essa minha avó não gostava de negros. Me dizia a todo momento que eu era a única preta que ela gostava. Claro que isso de uma maneira doce, com um abraço e um beijo, mas o fato é que ela não gostava mesmo de negros, inclusive, renegava o pai que tinha a pele bem escura e cabelos lisos. Minha avó também chamava minha mãe de “esta negrinha”.

Porque escrevo isso agora? Porque estamos em casa, em família, em nosso país, em nosso estado, em nosso município e diferenciamos nossos semelhantes, por conta de sua cor.

Lembro-me de amigas me apelidarem carinhosamente de preta, mas essas mesmas amigas também diziam “você não é preta!”, porque meu nariz é fino, meus olhos são claros e meu cabelo não chega a ser um afro, que aliás, eu adoraria que fosse! Acho lindo!

Negar a origem é natural do brasileiro e isso é algo que não consigo compreender, só sei que é! O grande ponto é que além de sermos resultado da mistura racial, somos todos marginais! Sim! Marginais no sentido da palavra mesmo! De viver à margem do que é ser humano e nos negamos a entender, aceitar e modificar isso.

Sendo honesta, se eu for separar pessoas em cores, não consigo dissertar sobre negros e brancos sem dizer que em meus 36 anos de vida, jamais um negro me desapontou, tirou vantagem de mim, me fez mal, nem nada parecido. Já os brancos, tem uma vasta lista de mentiras, golpes, desenganos e tudo de ruim que se possa imaginar, em âmbito pessoal, profissional, sentimental e financeiro.

Veja, não sou ativista, não saio em protestos, não participo de movimentos a favor ou contra nada, mas, fui desafiada a escrever sobre o assunto e não sei faze-lo sem expor não só minha visão, mas meu coração, minha alma  e principalmente, minha experiência pessoal.

O Brasil é um país pobre de cultura, pobre de dinheiro, pobre de educação e muito, mas muito pobre de espírito.

Historicamente, negros, no Brasil tem uma origem de sofrimento, vindo de maneira sub-humana para o país, sendo tratados e mantidos feito bichos em cativeiros e explorados até o fim de suas forças.

Creio que após o final da escravidão, muitos negros tiveram que viver mesmo à margem da sociedade, pois não haviam posses, moeda corrente, ou qualquer possibilidade de abandonarem as senzalas e passarem a viver em pé de igualdade com os brancos, fazendeiros, comerciantes e afins. Continuaram sendo escravos, sem ser, trabalhando e se sujeitando às mais diversas formas de humilhação, para sobreviver.

Então, acho que aquele ditado “a necessidade faz o ladrão”, neste caso, se aplique perfeitamente, pois a necessidade acabou por forçar e propiciar não só a marginalidade, mas tudo o que há de pior no ser humano. Que independe da cor, mas da condição social.

Atualmente, e desde sempre, negros, no Brasil (e em qualquer lugar do mundo), são vistos como uma ameaça, então, desde sempre, são sufocados, são excluídos, são forçados a caminhar à margem, pois quando conseguem alcançar um lugar ao sol, são excepcionais! Brilham como ninguém! E isso, para uma sociedade culturalmente pobre é uma afronta!

Pois bem, além disso, negros são fisicamente mais fortes, são instintivamente mais ágeis, são unidos, tem orgulho de sua origem e lutam bravamente por aquilo que acreditam e desejam!

 Agora, o grande problema não é a forma como os brancos vêem os negros, mas como os negros se vêem! Sim! Isso mesmo! Lutam pela igualdade racial, pela igualdade de oportunidades profissionais, pela igualdade social e aceitam ser colocados em cotas! Cota de negros em escritório, cota de negros em universidades, cota em negros em cargos públicos. Cotas!?!

Ora, cotas não são também uma maneira de dividir negros e brancos?! Negros são tão desprovidos que precisam que os brancos bondosos garantam sua participação no mundo, dando a eles um espaço reservado, que garanta sua “igualdade”?!
Não deveríamos ter cotas raciais, mas sim, cotas sociais! Sim! Oportunidade para aqueles que não podem pagar uma faculdade, que não podem pagar um curso de especialização e não falo de FIES, falo de subsidio integral por parte do governo, incentivo fiscal para empresas patrocinadoras, programas de estagio melhores e ações que propiciem de fato o crescimento cultural da população. Não determinados por sua cor, mas sim por sua condição social, financeira e educacional.

Hoje não temos negros marginais, mas uma sociedade marginal!
Negros, assim como brancos, são trabalhadores, são pais, mães, irmãos, amigos, vizinhos e principalmente, são pessoas!

A pergunta que me foi feita: Como é ser negro no Brasil?

Minha resposta: É a mesma porcaria de ser branco, amarelo, azul ou vermelho! Temos pessoas vivendo em favelas, embaixo de pontes, em situações precárias, sem saúde, sem educação, sem alimentação e sem amor!

A forma como negros são vistos é de fato diferenciada, a forma como são encarados na rua, é realmente diferenciada, mas acho que muito mais por sua altivez, do que por discriminação, ou qualquer outra razão.

A cultura negra ainda não é aceita, então, religiosamente destacam-se, sua estrutura corporal é diferente, então, fisicamente destacam-se. Assumem seus cabelos crespos, fazem mechas loiras, tranças e afins, numa época em que escova progressiva é obrigatória, então, visualmente destacam-se!

São altivos e por isso despertam olhares!

Volto a dizer, um negro quando brilha, apaga pelo menos dez brancos e isso assusta! Assusta porque quando o fazem, fazem por mérito, por garra e determinação e não porque vieram de uma linhagem, descendem de alguém ou porque tiveram vantagens. Creio que este seja o grande ponto! Negros não são discriminados! São temidos!

E sim! Existem os pobres de espírito que olham com desdém para um negro que caminha num parque cheio de brancos! Sim! Existem os olhares perplexos para o cabelo afro e andar altivo do negro que ousa pisar neste mesmo chão que os pobres de espírito caminham e sim, sei que estou equivocada em muito do que aqui coloquei, então, a única certeza que tenho é que espero e desejo que um dia, essa separação, essas cotas, toda essa coisa horrorosa de preconceito acabe.

" (...)
There are those who are asking the devotees of civil rights, "When will you be satisfied?" We can never be satisfied as long as the Negro is the victim of the unspeakable horrors of police brutality. We can never be satisfied as long as our bodies, heavy with the fatigue of travel, cannot gain lodging in the motels of the highways and the hotels of the cities. We cannot be satisfied as long as the negro's basic mobility is from a smaller ghetto to a larger one. We can never be satisfied as long as our children are stripped of their self-hood and robbed of their dignity by signs stating: "For Whites Only." We cannot be satisfied as long as a Negro in Mississippi cannot vote and a Negro in New York believes he has nothing for which to vote. No, no, we are not satisfied, and we will not be satisfied until "justice rolls down like waters, and righteousness like a mighty stream."
I have a dream that one day this nation will rise up and live out the true meaning of its creed: "We hold these truths to be self-evident, that all men are created equal."
I have a dream that one day on the red hills of Georgia, the sons of former slaves and the sons of former slave owners will be able to sit down together at the table of brotherhood.
I have a dream that one day even the state of Mississippi, a state sweltering with the heat of injustice, sweltering with the heat of oppression, will be transformed into an oasis of freedom and justice.
I have a dream that my four little children will one day live in a nation where they will not be judged by the color of their skin but by the content of their character.
I have a dream today!
(…)”
Martin Luther King

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