quarta-feira, 13 de julho de 2011

EU, NÓS, ELES

Foi assim, veio sem querer, sem avisar, sem sequer pedir. Quando vi, chegou!

Chegou já tomando conta de todos os espaços vazios, que eu nem sabia que existiam! Encheu os armários, as gavetas, todos os cômodos e espaços internos.

Não contente, também quis ocupar o exterior. Quis enfeitar, colorir, povoar, fazer jardim e tudo mais. Pisou nas margaridas, arrancou as marias-sem-vergonha, tirou a roseira e plantou tudo novo!

No primeiro momento, tive vontade de expulsar, de jogar no lixo, de por pra fora mesmo!

Afinal, onde já se viu chegar assim, sem sequer um telefonema ou um telegrama?!

Mas não fiz isso. Deixei para ver até onde ía. Quis saber por quanto tempo ficaria.

Com o passar dos dias, o que me incomodava passou a me fazer bem. Seu jeito desengonçado, atrapalhado e sempre apressado acabou me conquistando.

Sem me dar conta, passei a pensar no plural. Já não estava mais só e nem pretendia estar!

Fiz planos para nós, almoço para nós, jantar para nós, viagem para nós...

Então, o NÓS ficou pesado demais. Como vários nós na garganta que impedem a respiração, que atam nossas mãos, que nos fazem prisioneiros involuntários.

Nos vimos presos a esses nós que também não existiam antes, porque antes NÓS não existíamos!

De repente, tudo mudou. Fechou a cara, me olhou com um ar meio triste, meio sem graça, sem saber o que fazer ou o que dizer. Não disse nada, ficou em silêncio. Mudo, estático, então, virou as costas e foi embora.

Desatou os nós, engoliu os outros nós, e, então, NÓS deixamos de existir outra vez.

O singular voltou. A primeira pessoa voltou a imperar nos almoços, jantares, viagens... Tudo na primeira pessoa do singular novamente. EU!

Só então percebi que os espaços vazios seram muito maiores do que eu sequer tinha noção. Eram gigantescos. O que antes bastava e parecia ser até pequeno para o EU, ficou grande demais.

EU passou a querer o NÓS novamente, mas nós, já não podemos mais ser nós, porque hoje são ELES.

Então hoje sou só EU e ELES, MEU e DELES. Distintos, separados, distantes.

O único problema é que hoje, tenho um nó na garganta que não sai, não desata, não consigo engolir.

Acho que esse nó não é meu! É DELES.

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