Meu texto da semana passada teve uma repercussão maior do que eu esperava. Na verdade, o que houve foi uma espécie de protesto daqueles que se sentem carentes, daqueles que não tiveram coragem e daqueles que são tão intensos a ponto de beirar a loucura.
Calma! Não é uma crítica! Somente a constatação de algo além do que eu havia relatado, só que ainda não consegui definir ou entender se de fato trata-se de carência ou solidão.
Neste caso, refiro-me ainda àqueles que embora acompanhados, estejam vagando solitários ou carentes, nesse mundo torto que criamos.
Aquele meu amigo, ao qual me referi no primeiro texto, se encontrou. Encontrou o que procurava em si mesmo e em seu relacionamento. Para isso, teve que entrar em conflito, fazer suas idéias e ideais colidirem, teve que entender que apesar de a idéia de algo novo ser de fato tentadora, tudo o que ele precisava era aceitar e valorizar o que já havia conquistado.
Me pergunto, hoje, após tão veemente protesto, porque então tantas pessoas que são comprometidas, estejam se sentindo tão descompromissadas?!
Melhor dizendo, porque tantas pessoas apesar de serem casadas, sintam-se tão livres e liberadas de tal compromisso, a ponto de olhar para os lados, buscando algo novo?!
Acho que sei a resposta.
Quando nos casamos e assumimos a responsabilidade de uma caminhada conjunta, depositamos nessa união a esperança de uma caminhada emocionante, bem sucedida, com poucas derrotas e muitíssimas vitórias. Acreditamos que ao assumirmos tal aliança, teremos no outro aquilo que nos falta. Acreditamos que o outro nos suprirá de nossas carências, nos afastará de nossos medos e nos fará plenos em todos os aspectos.
Porém, com o passar do tempo, percebemos que o outro é só mais alguém que busca o mesmo que nós, só que com uma visão diferente, então, muitas vezes, o que deveria ser uma caminhada conjunta, passa a ser uma maratona individual, onde cada um tenta ser e dar o melhor de si, para que essa união dê certo, ou não.
Lembra quando escrevi sobre pessoas que são compostas por fragmentos de outras pessoas?! Então! Como encontrar no outro o que te falta, se no outro, falta tanto também?!
Hoje, temos no mundo inúmeros seres pensantes, que fazem o mundo girar, acordar e adormecer, mas também temos um zilhão de corações ambulantes, como eu! Perambulando por aí oferecendo algo ou esperando algo que dificilmente será encontrado.
Os seres pensantes são aqueles que constroem, que criam, que fazem com que as coisas aconteçam, independente de seus impulsos, loucuras ou carências. São seres que se alimentam daquilo que produzem e que vez ou outra tem um impulso, mas conseguem controlá-lo, pois sua razão fala mais alto. Sua sensatez é seu ponto forte. Então, mesmo que tenham uma tarde de impulsividade e desejo, no dia seguinte retomam a vida real e aquela tarde fica só na lembrança.
Já os corações ambulantes, são movidos pelo impulso, se alimentam das paixões e buscam incessantemente um algo mais. Esses seres estão fadados a viver mais, sofrer mais, querer mais, mas jamais se deixarão abater caso encontrem um ser pensante que não o corresponda, em seu caminho.
Esses são responsáveis pela audiência altíssima das novelas, pela bilheteria estourada de comédias românticas, pelo sucesso de livros com histórias fantasiosas entre lobos e vampiros, pois conseguem se colocar e se sentir na pele do vilão e do mocinho, do cara desastrado que no final se dá bem, da relação que em tese tem tudo para falhar, mas que vence qualquer barreira.
A carência que hoje sentimos no ar, vai além de nossa condição perante a sociedade. Ela é fruto daquilo que imaginamos ser o ideal.
A coragem que nos falta é resultado de relações frustradas e do medo do julgamento alheio.
A loucura que às vezes nos acomete é o reflexo de tudo isso.
Não tenho uma receita ou uma fórmula para eliminar tal sentimento dos solteiros, tão pouco dos casados, mas aprendi também a me alimentar daquilo que passou, assim, quando um ideal é só um ideal, lembro-me do que me fez bem, respiro fundo e sinto o vazio ser preenchido pela sensação de realização.
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