segunda-feira, 11 de julho de 2011

Miragem

É estranho como as coisas tendem a acontecer na vida da gente. É estranho como as pessoas tendem a acontecer na vida da gente.

Existem momentos em que parece estarmos no meio de um deserto, no topo de uma duna e parece que jamais sairemos dali. Mas, sem que possamos perceber, a duna está em movimento constante.
O vento leva os grãos de areia aos poucos, dando a falsa impressão de que nada acontece. Nada muda.

Então, de repente o sol nasce e percebemos uma coloração diferenciada no sol acima de nós. Vemos que a paisagem mudou. Percebemos que a duna que parecia imutável, está transformada e tudo o que restou dela foram os grãos que grudaram entre nossos dedos.

Às vezes, somos a duna, às vezes somos o próprio sol, mas na maioria das vezes, queremos muito ser o vento, que sopra, que muda, que transforma, transporta e surpreende.

Pessoas acontecem diariamente na vida da gente, assim como o dia que vai e vem sem que possamos sequer permitir ou muitas vezes perceber.
Existem dias que marcam mais, que são mais vividos, que são mais prazerosos e por isso, não queremos que passem.

Existem pessoas que marcam mais, que fazem nossos dias mais prazerosos e por isso não queremos deixá-las partir.

Porém, assim como o dia que vai e vem sem nossa permissão, pessoas também vem e vão sem nossa permissão. Tem período determinado e razão especifica para amanhecer e anoitecer em nossas vidas, não ficando um minuto além do necessário.

Ontem, vi um sol brilhante e lindo. Vivi uma noite mágica sob as estrelas do céu de escorpião. Senti o vento me arrastar como arrasta a duna mais densa do deserto para um oásis que eu nem imaginava que pudesse existir. Foi tempestade de areia, foi forte, foi único.

Mas isso foi ontem. Durou somente o que tinha que durar e por mais que eu quisesse prolongar, por mais que eu quisesse fazer esse dia se estender um pouco mais, ele se foi.
O dia de hoje não tem o mesmo sol, tão pouco o mesmo brilho. Aquele azul pertence somente ao céu de ontem. Pertence somente àqueles olhos.
O dia de hoje não tem tempestade, não me tira o ar, nem me arrasta para canto nenhum. Mas está aqui.

Hoje, gostaria de ter o vento que muda, transforma, transporta e faz com que tudo mude.
Hoje, gostaria de ter o sol, que aquece, conforta, ilumina.
Hoje, daria tudo para ter o oásis que mata a sede e leva esperança até mesmo aos corações mais fracos.

Hoje, sou somente a duna, que aos poucos é levada pela brisa leve. Grão a grão.
Sinto sol à distância, não sendo tocada, tão pouco aquecida por ele. Sei que ele existe, mas seus olhos não estão voltados para mim.

É bom saber que o sol brilha, mesmo que não seja para mim. Bom saber que aquele azul ainda existe independente de estar apontado para mim ou para outra direção.

A parte ruim disso tudo, é que talvez, em função de ontem, eu não esteja dando chance à esse novo dia que aqui está, com sua cor diferente, com seu brilho brando e singelo, com seu calor doce e calmo.

Então, talvez eu esteja errada, achando que a mim resta somente a lua fria, a lembrança do céu de escorpião e o desejo de que outro dia como aquele aconteça, quando na verdade, o dia que nasceu hoje é que foi feito pra mim, na medida certa, com o tom certo e com vontade de se repetir por muitas e muitas vezes, sem que eu precise pedir.

Talvez o céu de escorpião deva ser admirado à distância, como um segredo que devo guardar pra mim, sem dividir ou sequer dizer que um dia ele existiu. Talvez aquele azul tenha sido tão marcante porque durou somente um momento e nada além do que deveria durar.
Talvez meu oásis tenha sido somente uma miragem, uma ilusão que criei em função do meu desejo intenso de que algo acontecesse.

Talvez...!

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