segunda-feira, 29 de agosto de 2011

IRIS - Parte 2 (escrito em 12/08/2008)



Iris – Parte 2

“i don’t want the world to see me,
cause i don’t think they would understand,
when everything is made to be broken,
i just want you to know who i am”

Somos todos estranhos, sobrevivendo e tentando fazer de conta que nos conhecemos.
Eu, você, sua mãe, seu pai, seus irmãos, o verdureiro, o cara do açougue, o dono da padaria,...., um infinito de pessoas que se vêem todos os dias mas não se enxergam de verdade.

Outro dia, escrevi que gostaria poder tocar mais do que um corpo, que meu desejo era poder tocar uma alma, mas talvez, a única alma que esteja ao meu alcance seja a minha.

 Minha alma, meu coração, meu corpo, EU! Sou a única pessoa no mundo que conheço verdadeiramente, sou a única pessoa no mundo que me conhece de verdade e talvez, mesmo sem me conhecer direito, eu seja a única pessoa que jamais vou conhecer.

Talvez, não consigamos nos conhecer, por não sermos completos, por nos faltar uma parte, aquela parte que nos foi tirada e jogada pra bem longe de nós.

Somos inconstantes, instáveis, mutáveis, mutantes, seres em evolução e em declínio.

Pena que não haja devolução!

Que bom que não há!

Ainda bem que somos!

Descobri que não posso mesmo querer que o mundo me veja, porque sei que eles não me entenderiam, mas querer que alguém especial saiba quem realmente sou,  como diz a música, também é algo utópico, porque eu também não sei quem sou.

Não reclamo por ser assim e não vejo nossa espécie como “defeituosos”, só acho que por mais cercados que possamos estar, continuamos sozinhos e essa é a parte ruim da coisa. Nos fizemos vazios!

Tem sido estranho viver num mundo onde a carne é mais importante do que a alma, onde o momento é mais interessante do que o depois, onde basta um olhar carinhoso pra construir um muro imenso.

Aliás, creio que a indústria da construção devesse atentar um pouco mais para as relações humanas, para aprimorar os métodos de trabalho.
Os muros que construímos, tem sido mais do que sólidos e as escavações que fazemos são absurdamente rápidas!
Levantamos muros em um segundo e abrimos buracos de quilômetros de distâncias com simples palavras. Somos ótimos nisso!
Ultimamente, tenho me empenhado bastante pra me aprimorar na arte da “desconstrução”. Abri uma empresa de demolição!

Inicialmente, a idéia era demolir esses muros e as barreiras que foram construídas entre mim e pessoas que conheci, mas confesso que alguns desses muros são mais difíceis de derrubar do que imaginei, porque além da fundação ter sido muito bem feita, logo após o muro, há o abismo e ainda não descobri qual a profundidade dele.

Já pensei em encher de água e fazer uma piscina, mas não sei nadar.

Já pensei em encher de concreto, mas além de ser mais trabalhoso, será menos produtivo. 

Concreto é muito duro e cimentar o passado talvez não seja a solução. Além de não ser ecologicamente a melhor opção.

Decidi encher de terra, adubar e plantar, pra no futuro, talvez conseguir ver flores, frutos e uma árvore bem grande.

To na fase de buscar a terra pra encher o buraco.

Duro mesmo vai ser na hora de mexer com esterco pra adubar, vai feder, judiar das mãos. É cansativo e nojento, mas acho que o resultado vai valer a pena.

Enquanto minha empresa não cresce, continuo no meio desses seres estranhos, solitários e complexos, feito eu. Desconhecidos familiares e carnívoros por natureza.
Mas aviso antecipadamente: Apesar da aparência, não sou carne pra todo dia! Pra me comer, tem que temperar bem, amaciar bastante e cozinhar pacientemente! Depois disso, sirva-me acompanhada de uma boa taça de vinho tinto, ao som de Jimi Hendrix – Red House.

Bom apetite!


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