segunda-feira, 29 de agosto de 2011

No Terminal (escrito em 12/05/2008)

Sou péssima com coisas minhas.
Não cuido da minha saúde, das minhas finanças, do meu guarda roupas, enfim, não cuido de mim! Cuido de tudo e de todos os que me pedirem ajuda, mas me esqueço de mim.

Seguindo esse meu péssimo hábito, perdi meu bilhete eletrônico há nove meses atrás, sendo que mensalmente estavam sendo feitos descontos em minha folha de pagamento e eu, preguiçosa e displicente comigo mesma, comprava bilhetes e pagava dobrado!
Pois é... burrice pura!

Essa semana, criei coragem e fui até o terminal pra resolver essa questão.
Passei uma hora e cinco minutos na fila, com frio e ouvindo aquele barulho de ônibus chegando e saindo.

Enquanto na fila, pra não prestar atenção no cheiro de escapamento (poluição pura) e no barulho dos ônibus (mais poluição), passei a prestar atenção no que acontecia à minha volta.
Adoro isso! Amo observar pessoas.

Primeiro, dois amigos conversando "tarraboa a carne do mineiro, tarranão?! Rumbora voltá lá amanhã?! Gostou não cabra enjoento?!"
Tive que parar de prestar atenção porque prometi que meu senso crítico será podado, então, procurei outra distração.

Do meu lado esquerdo, perto das lanchonetes, próximos a escada que dá acesso à plataforma D, havia um grupo de mais ou menos quinze pessoas, todos, surdos-mudos. Comecei a observar a dança das mãos, os sorrisos e a mudança da feição de cada um deles à medida que mudavam de assunto. Me interessei tanto pelo papo deles, que passei trinta minutos vendo tudo aquilo.
Num dado momento, eu estava tão dentro do papo deles que tive que virar minha atenção pra outro lado. Eles falam demais! Meu ouvido estava cansado de tanto “ver” todo aquele barulho.

Do meu lado direito, lá no cantinho, tinha um casal. Creio que adolescentes saídos do colégio.
Sabe aqueles beijos intermináveis, que a cabeça pende pra um lado e pro outro, meio que numa dança bem suave e ao mesmo tempo bem quente?!

Então, daí me dei conta de que faz tempo que não beijo assim.
Meu corpo tem uma certa urgência que não me permite beijar daquele jeito.
Me lembrei do meu primeiro beijo, do segundo beijo e do beijo mais atrevido, ainda nessa fase adolescente, quando sexo nem me passava pela cabeça, ou até passava, mas não era tão urgente.

Me lembro que a primeira vez que deixei um garoto passar a mão no meu seio, saí correndo, senti enjôo, vê se pode?!

O beijo daquele casal me deu saudade...
Daí, vi a mão dele deslizar pela cintura dela e apertar, num puxão sem aviso.
Vi a mão dela passar por dentro da blusa dele, e..., tive que parar de olhar, senti calor, fiquei sem graça! Pensei besteira!

Escuto: “PRÓXIMO!”, passaram-se outros 30 minutos e finalmente chegou minha vez!
“Senhora, seu saldo é de R$1.200,00, mas não posso liberar seu cartão, pois há uma divergência de informações, seu número consta como sendo de duas pessoas, a Senhora deve retornar em horário comercial para ligarmos para a central”.

Dá pra acreditar?! Passei uma hora na fila, para em cinco minutos ser chamada de SENHORA duas vezes, me dar conta de que em nove meses, gastei exatos 2.400,00 de passagem de trem e não resolvi o problema!

Saí da fila muito brava! Os surdos-mudos já haviam ido embora e o casal havia dado uma pausa pra garota espremer espinhas no rosto do namorado, só namoro adolescente faz isso!

Minha mãe sempre diz: “burro tem trabalho dobrado”. Vou ter que voltar ao terminal.

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