domingo, 24 de outubro de 2010

A Caixa de Pandora

Prometeu, Epimeteu e Atena foram responsáveis pela criação dos seres viventes, e por dar-lhes tudo o que há de bom, e espírito semelhante ao dos Deuses do Olimpo.
Em defesa do homem Prometeu e Zeus se encontraram em Mecone (Grécia) para decidirem os deveres e os direitos da humanidade.
Prometeu para mostrar que  Zeus era injusto, matou um belo e imenso touro, partiu-o ao meio e pediu para que os deuses do Olimpo escolhessem uma das partes, pois a outra caberia aos humanos. Porém, ele pôs em um dos montes apenas ossos e cobriu-os com o sebo do animal, esse apresentou ser maior que o outro monte de carne. Com toda sua soberba Zeus escolheu o monte maior, no entanto, ao descobrir que havia sido enganado por Prometeu, decidiu vingar-se dele negando à humanidade o último dos dons que necessitavam para se manterem vivos: o fogo.
Com o objetivo de salvar sua criação, Prometeu roubou uma centelha de fogo celeste e entregou aos homens. Ao perceber que o novo brilho que vinha da terra era fogo, Zeus decidiu se vingar do ladrão (Prometeu) e dos beneficiados com o fogo (a humanidade). Aprisionou Prometeu na parede de um penhasco na montanha caucasiana, com uma corrente inquebrável, todos os dias suas vísceras eram comidas pelas aves, como era imortal, durante a noite os órgãos se restituíam e no dia seguinte, as aves voltavam e comiam novamente, assim era a sua tortura diária.
 Antes de ser aprisionado Prometeu deixou um recipiente, seu formato não é descrito ao certo, aqui será denominado de “caixa”, com seu irmão Epimeteu, e esse ficou incumbido de ser o guardião da caixa, não permitindo que ninguém se aproximasse dela.

Para se vingar do homem, Zeus resolveu criar a mulher com a ajuda dos demais deuses. Nela, cada um dos deuses pôs uma de suas qualidades, dentre elas a beleza e a inteligência e deu-lhe o nome de Pandora.


Zeus a enviou de presente para Epimeteu. Esse, não deu ouvido aos conselhos que o irmão havia lhe dado antes de partir, que era para não aceitar nenhum presente dos deuses, aceitou Pandora.
Ela o seduziu e, após cair na armadilha de Zeus, Epimeteu caiu em um sono profundo. Aproveitando-se disso, Pandora abriu a caixa e quase todos os males que estavam lá dentro foram libertos. Coisas tão ruins a amedrontaram fazendo-a fechar a caixa, porém, o último e mais importante permanecera dentro da caixa, o destruidor da esperança.



Ontem, fui dormir pensando sobre essa história.

Acho que ao abrir a caixa, Pandora libertou realmente todos os piores monstros que poderiam haver e todos eles, encontraram refúgio e abrigo no coração dos homens, então hoje, nós somos as “caixas de pandora”.
Acontece que alguns de nós somos munidos de mais amor do que outros e por vezes, somos considerados covardes, por não sucumbirmos ao desejo de cometer atos cruéis e desumanos.
Infelizmente, atualmente, nós, caixas de pandora, temos nos permitido abrir com mais facilidade.

Diante do fato ocorrido recentemente, de um pai possivelmente ter sido capaz de compactuar com um ato monstruoso que acometeu a própria filha, tenho acompanhado mais atentamente e reflexivamente tudo o que ocorre ao redor de mim, na minha vida, no meu dia-a-dia e do meu filho, confesso sentir pavor ao pensar que todos nós, somos passíveis de cometer um ato como este, ou como tantos outros que ocorrem anônimos, diariamente e não nos damos conta.

Todos os dias, minha caixa de pandora (eu), tenta se abrir e até se abre, quando alguém me fecha no trânsito, quando presencio um ato de crueldade contra o próximo, quando escuto o créu, quando vejo que meu país é governado por asnos, quando chego cansada e meu filho faz malcriação.

Sou consciente de que meu dinheiro, minha dignidade e meus direitos são roubados de mim todos os dias e compactuo com tudo isso.
Não faço absolutamente nada, diante da notícia de que o assassino daquela missionária foi absolvido.

Me sinto impotente, quando penso em todo o sofrimento que aquele anjo teve, antes que lhe
jogassem pela janela. Queria muito acreditar que naquele momento, suas pequenas asas se abriram e ela alçou vôos altos e totalmente fora da compreensão humana, ao invés de acompanhar inerte a reação dissimulada dos que lhe fizeram mal, enquanto sentia sua vida se acabar num gramado frio.

Somos caixas de Pandora, pois mantemos em nós, tudo o que há de mal, libertamos, alimentamos, criamos os mais terríveis monstros em nós mesmos.

Somos cegos a tudo de ruim que nós mesmos provocamos ao nosso mundo e somos dissimulados a ponto de fingir indignação, quando somente um dos muitos atos de maldade é levado a público.

Somente um ato é isolado e levado ao conhecimento público e nós, caixas de pandora, somos hipócritas a ponto de fingirmos sofrimento para vendermos sorvete no meio da multidão.

Não sei se por sorte, a caixa original manteve o pior dos monstros, então, somos caixas de maldade, munidas de esperança.

Que contraditório! Aquele que faz o mal tem esperança de que tudo acabe bem.

Assim sendo, prefiro ter esperança de que aquele pai não tenha cometido tal ato, que o assassino pague por seus crimes, que a mãe natureza nos perdoe por todo o mal que causamos ao planeta e que meu país torne-se realmente o país do futuro.

Segundo a Bíblia, Jesus se sacrificou, para que nós fossemos perdoados do pecado original, mas será que hoje, Jesus está contente com aqueles pelos quais ELE deu a vida?!

Será que hoje, se Jesus fosse novamente açoitado, humilhado, ferido, crucificado e brutalmente assassinado, ELE conseguiria nos livrar de todos os nossos pecados?!

Eu, honestamente, acho que não.

ELE, tem mandado anjos para o nosso meio, e nós os assassinamos diariamente.

Tenho vergonha de fazer parte de uma humanidade que não é nada humana, ser considerada um ser racional, quando não uso a razão, dizer que amo, quando não sou amada.

Me perdoa Pai, porque não sou digna do seu amor, nem da sua compaixão. Permita-me um dia, entender o que é ser humana de verdade, para que eu possa ensinar aos meus, o verdadeiro sentido dos seus maiores mandamentos: “amai a Deus, acima de todas as coisas, amai ao teu próximo como a ti mesmo”.

Não quero aqui, fazer um discurso religioso. Longe de mim!

Sou católica não praticante, mas tenho muita fé em meu coração e é por essa fé, que espero e tenho forças todos os dias, para manter meus demônios bem guardados em mim.

Tenho pena daqueles que não tem a mesma força e fé e acabam por sucumbir ao desejo do que é ruim.



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