A mulher, foi criada com o dom e o privilégio de gerar, trazer ao mundo e prover ao filho o alimento necessário até seu primeiro ano de vida, sem necessitar de nada além de seu amor incondicional e seu instinto de preservar e perpetuar a espécie.
Até onde isso é realmente um dom? Quando e porque isso tem que se tornar uma maldição?
Ontem eu estava em casa, de folga, procurando algo pra assistir à tarde e acabei caindo num desses programas de fofocas, polêmicas e afins, que tanto enchem a mente das pessoas com coisas inúteis.
Havia um quadro em que as pessoas levavam os problemas para que o auditório, tido como júri popular, pudesse definir o desfecho da situação.
O assunto me interessou por tratar-se de uma senhora de cinqüenta anos que pleiteava o aumento da pensão alimentícia da filha de 15 anos, que era de R$ 70,00.
Dois advogados, tribuna, votação das pessoas presentes e a “mediadora” sentindo-se juíza e em plenos poderes de julgar não só a situação em questão, mas também a vida e o caráter daquela senhora.
Pra concluir o programa e chegar no ponto em que quero tocar, após muita humilhação, após ser julgada e condenada por ter optado ser mãe, como ato de caridade do pai, e a pedido da “mediadora” a pensão passou de 70 para 100 Reais.
Perdi o sono essa noite! Eram 02h44 da madrugada e o assunto estava fervendo na minha cabeça!
Quando um casal se separa, os filhos, na maioria das vezes, ficam sob guarda e responsabilidade da mãe. Só que o fato de possuírem a guarda dos filhos, trás também a responsabilidade da formação do caráter, boa índole, personalidade e afins. A sociedade, em função desse “poder” que as mães tem, também cobram e as culpam por quaisquer deslizes que os filhos possam vir a cometer.
Então, além de preocupar-se com a formação de bons indivíduos, a mulher também tem por obrigação prover o filho de todo e qualquer bem material necessário, já que a justiça pode muitas vezes tirar qualquer responsabilidade do pai, seja moral ou financeira.
Ontem e durante toda a madrugada, fiquei imensamente incomodada com as coisas que vi e ouvi, porque aquela senhora, além de ter a responsabilidade de formar uma pessoa, também tinha que “se virar” para não deixar que nada de material faltasse à sua filha e quando citou o ponto de que a filha tinha necessidades que iam além de itens básicos, como comida e vestimenta, que R$70,00 não pagavam, a “mediadora” disse que começou a trabalhar aos 9 anos, logo, uma garota de 15 anos, deveria sentir-se responsável por seus “desejos supérfluos” e trabalhar para conquistá-los.
Concordo que o trabalho auxilia muito na formação de um jovem, concordo que bens supérfluos devam ser conquistados, mas como podemos admitir que alguém que tem o poder de influenciar e formar opiniões, levante uma bandeira dizendo que uma criança de 9 anos pode e deve trabalhar para se sustentar?
Vivemos numa sociedade torta, de pensamentos distorcidos e por mais que tentemos ser “modernos”, ainda somos retrógrados e quase irracionais em algumas questões.
Desde quando, a separação de um casal impõe toda e qualquer responsabilidade sobre formação de caráter de um indivíduo seja exclusivamente da mãe?
Se um homem separado fica com a guarda dos filhos, é tido como um herói, alguém admirável, que é respeitado e desejado.
As mulheres quando conhecem um homem separado que cria seus filhos sozinho, pensam “Ele é perfeito! Por favor, me deixa ser mãe dos seus filhos?!”
A mulher separada que tem a guarda dos filhos é julgada e observada em tempo integral. Os observadores de plantão, aguardam por suas falhas ansiosamente e os homens que cruzam seu caminho pensam “Divorciada? Com filhos? Rapidinha fácil, meia horinha de prazer e até nunca mais!”
A moça do programa da tarde disse que é inadmissível um filho “acontecer” e responsabilizou totalmente a senhora pelo “acontecimento”.
VERDADE! CONCORDO! O homem estava lá no ato sexual, mas foi a mulher que gozou com o pau dele!
É mais ou menos como entregar uma arma totalmente carregada nas mãos de um indivíduo. Se ele puxa o gatilho ou não, é responsabilidade dele e não do que entregou a arma e a munição. Se alguém morreu, a culpa é de quem atirou!
Se o homem gozou, a culpa é da mulher! E se ela gozar junto então, o crime é maior ainda! Crime com intenção de matar!
Só que o julgamento, não cabe só a mulheres separadas, na verdade, é aplicado a toda e qualquer mulher!
Uma amiga de muitos anos, criou 3 filhos (duas meninas e um menino) com todo o carinho do mundo, com bases religiosas bastante sólidas, mas o filho, por ser homem, na adolescência, foi “solto”, porque afinal de contas, o pai estufava o peito e dizia “é homem! Tem que aprender a viver!” e não é que o garoto pegou tanto gosto por viver, que está se matando nas drogas e em tudo o que é ruim?! Adivinha quem é que está sendo massacrada por toda a família?! A mãe! A mãe que não criou o filho direito, que não educou, que não formou da maneira correta! E o pai?! É vítima! Todos têm pena da dor dele, por ter o único filho homem perdido para o mundo! O casamento está em risco, porque a mãe não é boa o bastante. A responsabilidade é toda dela! Ela falhou em sua tarefa!
Se o marido trai a esposa, não é que ele tem mau caráter ou maus hábitos, é que a mãe dele não educou direito. Não soube criar! Não explicou o quanto é importante manter a integridade de uma família.
Se um pai mata ou estupra a filha, na verdade, a culpa é da mãe dele, que não ensinou o fundamental da vida pro pobrezinho! Ele não é responsável por seus atos, mas a mãe da menina violentada ou morta é responsabilizada pela falta de segurança e cuidados com a filha.
Se eu não criar meu filho da maneira correta e amanhã ele demonstrar um desvio de comportamento, a culpa é toda minha, porque eu gerei, amamentei, formei e o fiz exatamente como ele é!
O pai do meu filho?! Não o culpe jamais por qualquer problema ou desvio de caráter que meu filho possa ter, porque afinal de contas, fui eu que gozei com o pau dele!
Aliás, não culpem nem julguem os homens imprestáveis que estão por aí. Culpem e julguem as mães!
Eu já decidi! Vou cobrar pensão alimentícia da minha sogra! A culpa é dela se meu ex marido não vale o chão que pisa!
Não posso generalizar, obvio! Conheço homens admiráveis e respeitáveis, assim como também sei de histórias de mulheres que tem filhos e os abandonam em casa para irem dançar forró!
Só não acho justo o julgamento que é feito!
O homem apresenta um holerite (quando apresenta) e ao juiz, que por sua vez, após julgar a mulher por ter casado com um imprestável, estipula uma pensão alimentícia para os filhos, que pode variar de 10 a 30% do valor do holerite.
Se o valor dá pra comprar um saco de arroz ou uma Mercedes é problema da mulher! ELA que se vire para sustentar os filhos que ELA trouxe ao mundo!
Até onde sei, para se fazer um filho, são necessários 2 componentes, um feminino e um masculino, ou seja, 50% e 50%, então, porque toda e qualquer responsabilidade de criação e formação, deve ser exclusivamente da mulher?
Se a senhora de 50 anos tem uma renda de 1000 reais e 30% dessa renda é usada somente para o bem estar da filha, então, o justo seria que o pai também contribuísse com 300 reais. Se não quer honrar com o compromisso moral, que ao menos arque com a responsabilidade financeira em proporção igual à da mãe.
Se a mulher pode “se virar” para sustentar um filho, tendo até 3 empregos, porque o homem também não pode?!
Se a mulher é imprestável e não tem condições morais e financeiras de criar um filho, acho totalmente louvável que o pai o faça e que a justiça também imponha a ela as mesmas condições e deveres.
Deveria ser assim:
Casal separado, filhos ficam com quem tem condição moral para criar os filhos e ambos devem contribuir com a mesma quantia mensal para a criação dos filhos. Se criar um filho custa 1000 reais, então, cada um que “se vire” para contribuir com 500 reais.
Se a criança não pode contar com o apoio incondicional de ambos, que possa ao menos ter condição de moradia, alimentação e estudo decentes.
Seja pai ou seja mãe, que tenha condição moral, que tenha caráter, que tenha boa índole e que saiba o quão difícil é criar uma pessoa.
A questão financeira é importante sim, mas o mais importante é saber que a sociedade como um todo é responsável pela formação de um indivíduo e não importa se eu comecei a trabalhar com 14 anos e se meu filho vai começar a trabalhar com a mesma idade, mas é fundamental que ele se sinta amado, desejado e cuidado. Que aprenda os mesmos valores que meus pais me ensinaram e que tenha condições de saber o que é certo e errado no mundo.
E se um dia qualquer, meu filho assistir um programa desses e se sentir tão indignado quanto eu me senti ontem, então, vou saber e sentir que cumpri com meu papel de ser humano, nem de mãe, nem de pai, mas como pessoa de princípios e valores bem definidos.
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