segunda-feira, 25 de outubro de 2010

O que eu quero? - Parte 2

Semana passada, escrevi sobre não saber o que queria e mais, escrevi sobre de maneira geral, aquilo que me incomoda e que só percebi ou só senti quando uma pessoa me questionou a respeito.
Como não gosto de deixar nada sem conclusão, hoje, uma semana depois do ocorrido, chego à um conceito. Não ainda uma conclusão, mas um bom conceito.
Sempre gostei de pensar que existem universos paralelos à este que vivemos, e, que temos diversas vidas, diversos caminhos. Diferentes histórias que correm juntas, sem nunca se encontrar.
Nesta vida, escolhi o mundo corporativo, que é ao meu ver, o mais competitivo, o mais sedentário, o mais cruel dos mundos.
Nesta vida, não há tempo para erros, para escolhas erradas ou para indecisões. Aqui tudo é muito rápido, muito dinâmico e cada passo em falso representa anos de defasagem com relação aos demais seres viventes.
Uma vez, conversando com a minha mãe, tentando entender a forma como ela viveu e o que para ela realmente tinha valor ou não, ouvi uma história sobre um irmão que perdeu ainda bebê, de desidratação. Minha mãe, aos 8 anos, era responsável pelo cuidado e alimentação do pequeno e não sabia que era importante que ele bebesse água. Ao concluir a história, ouvi minha mãe dizer “filhos eram criados como Deus criou batata”.
Minha mãe não sabe ler, nem escrever, cresceu vendo os pais sem casa própria, sem comida no prato para dar aos filhos, sem o mínimo conforto para viver, perdendo filhos pelo caminho.
Todo ser humano aprende e tira da vida aquilo que não quer para os filhos. Minha mãe não foi diferente. Preocupou-se em alimentar, vestir e abrigar os filhos, então, no que se propôs, saiu vencedora. Nenhum dos filhos passou fome, morreu de sede, ou ficou ao relento e todos sabem ler e escrever.
Outro dia, no ambiente de trabalho, estávamos falando sobre essa geração de profissionais, que cada vez mais jovens ingressam no mundo corporativo, tem cargos de destaque, possuem formação de qualidade, falam diversas línguas, já viajaram praticamente o mundo inteiro e que nos colocam no chinelo, porque a nossa geração estava preocupada em curtir baladinhas, em ser antes de ter.
Essa geração é formada por filhos de pais jovens, que viveram e vivenciaram experiências que não queriam que os filhos também tivessem. São pais que chamo de “Facilitadores” e em alguns casos “Provedores”.
Não digo que essa é uma regra, mas é parte do que vejo diariamente e que agora compartilho.
Hoje, fui novamente questionada sobre o que quero e minha resposta foi simples e objetiva. “Quero que meus filhos tenham um futuro diferente do meu. Quero que tenham tranquilidade em suas vidas”. Com isso, quis dizer que não me importo em trabalhar por sobrevivência hoje, para que meus filhos possam viver o amanhã que lhes pertence.
Quero poder ser uma mãe facilitadora.
Para minha mãe, o que importava era o teto e a comida e foi isso que ela ensinou e instigou que os filhos buscassem. Todos, sem exceção começaram a trabalhar aos 14 anos, para que não faltasse o teto, a comida e o que vestir. Lição aprendida.
Tenho um sobrinho com a minha idade. Temos exatos 3 meses de diferença, mas somos de gerações totalmente diferentes.
Ele, filho da minha irmã mais velha, que já viu e viveu tudo o que vivo hoje, teve todo o estimulo necessário para que buscasse mais do que o conforto diário. Minha irmã foi “facilitadora”, provendo, cuidando e zelando para que ele se tornasse mais do que ela foi.
Meu sobrinho, que tem a minha idade, é hoje empresário. Trabalha para si, tem seu conforto e já planta o futuro dos filhos. Eu, criada pela mesma mãe que criou meus outros 9 irmãos, não sou metade do ser que ele é. Não no mundo no corporativo em que vivo.
Hoje, comer, vestir e morar não tem a mesma importância que tinha antigamente, porque essa era a preocupação dos pais da geração anterior. Sobreviver era preocupação da geração anterior.
Hoje, apesar de viver aqui, no meio de pessoas que tem a minha idade, ou mais jovens, tenho que ter a preocupação da geração anterior. Tenho que me preocupar em ser facilitadora e provedora, ao mesmo tempo em que esse mundo corporativo me força a acompanhar o ritmo de uma geração que veio depois da minha.
Na conversa de hoje, me pediram para fazer uma projeção de onde eu quero estar daqui cinco anos e minha resposta foi “se eu conseguir ter tranquilidade para me livrar dos problemas atuais e prover meus filhos daquilo que eles precisam, já me darei por vencedora. Depois, me sentindo bem comigo e com eles, daí penso em ir atrás daquilo que quero”.
Obviamente, a resposta à minha resposta não foi a melhor, pelo contrário, me propuseram um novo exercício, mas esse não vem ao caso agora, esse será material para outro texto, depois de outra reflexão, pois como falei lá no começo, esse é somente um conceito, não uma conclusão.

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