Nossa cultura é oriunda de um misto gigante de raças, credos, religiões e regiões. O Brasileiro é o povo mais “chupim” e criativo que existe e o cara que tem um nome tipo “zé da alfafa” ganha mais dinheiro cantando “tchururu” do que eu, trabalhando a vida inteira.
Percebo por exemplo que o povo ouve uma música que tem uma batida legal e imagina que seja uma música romântica, quando na verdade, o refrão é repetitivo e não há letra alguma, e mais ou menos como o créu cantado de maneira mais suave, e com uma batida romântica, é isso!
Minhas aventuras no trem têm me rendido algumas inimizades passageiras, encontros inusitados, situações escabrosas com músicas irritantes, terapia do abraço em grupo grátis e ultimamente, o que tem me chamado atenção, é o dialeto.
Veja bem, não quero ser crítica, não é isso que quero passar adiante, mas sempre que vejo e ouço algumas coisas, me lembro da minha professora de língua portuguesa, a Dona Jane.
Quando cheguei à 5ª série, essa professora, nos levava até a biblioteca uma vez por semana e exigia que lêssemos um livro de no mínimo 100 páginas e fizéssemos um resumo, detalhando a história, colocando nosso ponto de vista. Para garantir que o livro realmente fosse lido, tínhamos que descrever seu início, o clímax e o final. O resumo era apresentado por nós, diante de toda classe e não valia ponto algum, só evitava pontos negativos.
Se escrevêssemos algo errado, ela nos fazia repetir vinte vezes a palavra errada numa folha que deveria estar limpa, sem sinais de rasura e as palavras tinham que estar organizadas, enfileiradas e com o mesmo espaço entre si. Foi assim durante 3 anos.
Graças à Dona Jane, não uso gírias e não falo palavrão à toa, só quando um desgraçado, FDP, miserável, corno, (...), bate no meu carro, me fecha, me machuca, ou quando um asno me faz sentir burra, daí, perco a compostura e considero totalmente legítimo o uso de palavras mais ofensivas.
Enfim, não falo “oi” para as pessoas dizendo “fala aí viado!”, ou coisa do tipo.
No trem, percebi que as pessoas não falam a mesma língua que se lê nos jornais, se ouve nas rádios ou no ambiente de trabalho. Existe um dialeto próprio.
Há alguns dias, me sentei perto de duas moças que deveriam ter no máximo 20 anos, usavam jeans e camiseta, enfim, aparência boa, duas garotas comuns e bem cuidadas pelos pais, que me deixaram pasma quando começaram a conversar.
O som, as palavras e o conteúdo que saía dos lábios cuidadosamente pintados para combinar com a sombra que usavam, parecia não pertencer a elas.
Se, consegui entender duas palavras, foi muito! Comunicavam-se através palavrões, gírias e expressões estranhas.
Por conta desse episódio, passei a observar e ouvir mais, então, percebi que o “LH” não existe. Por exemplo:
Caraio = Caralho, que pode ser uma expressão boa ou ruim, tipo: “Mano, cê é du caraio!”, nesse caso, é uma expressão boa, mas quando alguém te empurra e exclama “Caraio!” te olhando bem feio, eu aconselho correr, porque pedir desculpas não vai adiantar.
Bagúio = Bagulho, que também tem vários significados, pode ser entorpecente, maconha, mulher feia, objeto que foi roubado ou algo do qual se esquece o nome momentaneamente. Essa é uma palavra bastante rica e é usada com maior freqüência.
Orgúio = orgulho, neste caso, o significado é o mesmo da palavra original, mas a pronúncia foi adaptada.
Existem várias outras palavras, mas meu vocabulário ainda não está tão rico assim, porém, observei que algumas expressões, adjetivos e formalidades triviais também foram substituídas, ex.:
“Você entende?!”, é substituído por “Ta ligado?!”
“Bom dia!”, é substituído por “e aê truta!”
“bonita (o)”, é substituído por “préza”
Agora, difícil mesmo é entender uma frase inteira, tipo: “aí mano, ta ligado o bagúio?! Foi foda, os truta pã e aí o barato miou, mó vacilo!”
Pois é! Eu fico com um ponto de interrogação gigante e passo os 15 minutos do meu trajeto de trem, tentando imaginar do que estão realmente falando.
Daqui um tempo, quando eu conseguir colecionar, identificar e entender outras palavras e expressões, volto nesse assunto. Por enquanto, agradeço à Dona Jane por tudo o que fez por mim, porque hoje, acho que escrevo razoavelmente, leio com freqüência e me expresso publicamente sem dificuldade, então:
“Salve dona Jane, valeu aê! Sua contribuição foi substancial pro desenvolvimento intelectual da pessoa aqui! Foda memo! Dô mó valor no que a senhora fez ta ligada?! Foi du caraio!!!
Nenhum comentário:
Postar um comentário