sexta-feira, 15 de outubro de 2010

O que eu quero?

Hoje, depois de um dia exaustivo e tenso, por assumir que se não conseguisse finalizar uma tarefa provaria que a teoria dos outros de que sou incapaz estaria certa, ouvi a seguinte pergunta: O QUE VOCÊ QUER?

A sociedade cobra cada vez mais a capacitação, a excelência, o know - how em todo e qualquer assunto. Se não estiver cursando uma faculdade aos 18 e se não tiver uma pós feita logo na sequência, você é incompleto e é colocado à margem do mundo corporativo.

Durante um bom tempo não tive a necessidade de provar ao mundo a que vim. Simplesmente vim! Comecei minha jornada nesse mundo capitalista há exatos 18 anos e desde então, só o que importa é conseguir pagar minhas contas em dia, manter uma casa abastecida e uma mãe financeiramente saciada.

Há 10 anos atrás, entrei no meu auge profissional. Fiz contatos, estabeleci relacionamentos, desenvolvi experiência profissional e reconhecimento no mercado em que atuava. O retorno imediato, foi rentável e muitíssimo prazeroso, mas me custou faculdades inacabadas, relacionamentos vazios e um futuro inconsistente e incerto. Foi um ótimo momento, mas um futuro bastante custoso.

Há 6 anos, me tornei mãe, então, minhas prioridades passaram a ser as prioridades da vida. Esse foi o momento em que mais trabalhei.

Há 3 anos, uma pessoa me disse que as oportunidades iriam começar a diminuir, meu caminho profissional iria começar a se estreitar, minhas chances seriam drasticamente reduzidas por conta do fator idade x qualificação.

Não me dei conta do quanto ele tinha razão. Aliado a tudo o que me disse, estava o fato de eu ter assumido um desafio profissional que me tirou do meio em que eu me destacava, então, minha rede de relacionamentos foi por água abaixo.

Ser humana, ter um bom coração, ter força de vontade e disposição não são pré-requisitos solicitados numa entrevista de emprego.

O que eu quero? Me deram a tarefa de pensar esse final de semana sobre isso.
Cheguei em casa, entrei no chuveiro e chorei, como uma criança, coisa que já não me acontecia há tempos, pois em função de situações difíceis que vivenciei, endureci e deixei de chorar.

Porque essa pergunta me fez chorar? Porque junto com ela, a pessoa que me questionou, concluiu que por não ter definido o que quero, trabalho por sobrevivência. Trabalho para minha sobrevivência.

Chorei, porque além de me sentir minúscula, sem rumo, sem razão de ser e existir, me vi cansada de ser quem sou. Ele tem razão! Sobrevivo!

Estou cansada de ser eu! Horrível isso, mas verdadeiro!

Estou cansada de ser julgada por coisas que estão alheias ao conhecimento dos que me cercam. Eles não fazem idéia de tudo o que vi, vivi, ouvi e passei! Com que direito me julgam?

Estou cansada de ter que matar um leão por dia porque SIM preciso sobreviver. Os que me cercam não fazem idéia de como é difícil me levantar todos os dias, depois de uma noite mal dormida, para trabalhar em algo que para os outros é sem valor, pelo simples fato de ter responsabilidades, pessoas que dependem de mim e personalidades para formar.

Estou cansada de ser usada para relações vazias, sem sentido, sentimento e cuidado. O momento é bom, mas e depois? Quero alguém que me mande mensagens apaixonadas, que diga que sente minha falta, que quer me ver nem que seja para me roubar um beijo e sair correndo. Quero ouvir "Eu te amo" e quero sentir que é verdadeiro e não só um momento de cama. Mereço isso!

Estou cansada de usar essas relações vazias como válvula de escape, como entorpecente para os meus problemas, mas estou tão cansada dos meus problemas que sinto necessidade desse entorpecente. Assim como também estou cansada de ser entorpecente de pessoas que assim como eu, querem fugir da realidade.


Estou cansada de ter que ser sempre forte, sempre pai, mãe, filha, amiga, irmã e dona de todos os problemas. Uma só vez na vida eu gostaria de ter alguém que cuidasse de mim e se não fosse possível, então, que pelo menos eu tivesse condição física, emocional e financeira para resolver tudo e ainda ter tempo para ler um livro.

Então pergunto:
Se hoje sou mãe e pai, sou dona e provedora, mas não sou filha, não sou mulher, não sou amada, não sou profissional, não sou qualificada, como posso responder com exatidão, o que quero?

Deveria hoje ter chegado em casa com sensação de missão cumprida, afinal, concluí a tarefa que me foi designada sem auxilio dos que sabem e dominam muito mais o assunto do que eu, mas ao invés disso, cheguei com a sensação de não ter futuro.

Me vi como aquelas mulheres que trabalham como diaristas, que saem de casa cedinho, deixam os filhos dormindo e vão limpar nossas casas, arrumar nossa bagunça, lavar nossas privadas e no final do dia, com a mão cheirando cândida, vão pra casa contando o dinheirinho do pão das crianças, com a certeza de que amanhã a história se repete e talvez sobre até um troquinho pra comprar um brinquedinho para um dos 10 filhos. Mulheres que entram no trem comigo diariamente, com o esmalte das unhas pela metade, os cabelos bagunçados, olhos cansados e corpos surrados pela vida.

Não sei ainda o que essa pergunta fez comigo. Não sei ainda se quero pensar a respeito. Não sei ainda o que concluí ou o que posso vir a concluír desse dia de hoje. Só sei que sempre soube reconhecer o trabalho das diaristas que vinham limpar minha casa, sempre agradeci por limparem minha sujeira e sempre afirmei que o trabalho delas era tão nobre quanto o meu, só mudando o tipo de sujeira com o qual se trabalha.

Hoje, não tive minha válvula de escape. Não tive meu entorpecente. Só tive uma dose maciça de realidade que desceu a seco, rasgando minha garganta, enchendo meus olhos de lágrimas e minha cabeça com todos esses pensamentos.




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