domingo, 24 de outubro de 2010

Cultura ou Falta de?


Outro dia, vi Tom Zé no programa do Raul Gil, tirando o chapéu pro Funk, defendendo sua opinião de que o funk brasileiro é a expressão da cultura e da linguagem do povo. É o que se diz e se vive nas ruas. Ele disse que quando a garota canta “to ficando atoladinha” ela está demonstrando e dizendo ao mundo seu lado sexual e sensual, sem pudor, sem nenhum tipo de censura e que isso é normal e saudável e que deveria ser mais comum.

Esse final de semana, mais precisamente na madrugada de sábado para domingo, fiquei acordada das 21h até 05h da manhã, ouvindo forçadamente músicas que falavam sobre “frango assado” e “vem cá gostosinha que vou comer sua b....”, que meu vizinho, fez questão de compartilhar não comigo e com todas as demais casas da rua.
Quando me cansei do repertório, liguei pra polícia, porque jamais me atreveria ir até lá, uma vez que as pessoas que estavam no meio da rua com som alto, dançando, bebendo, fumando e se drogando não pareciam ser muito amigáveis, tão pouco compreenderiam o que significa respeitar o espaço do resto do mundo.
Para minha surpresa, depois que a polícia deixou o local, o som dobrou de altura e eles gritavam em coro, igual torcida organizada em dia de final de campeonato, além de acelerarem motos, buzinas e afins.

Daí passei o resto da noite lembrando dos meus textos e pensando se o correto é “conserto” ou “concerto”, se Húmus significa mesmo esterco ou terra, enfim, abstraí buscando meus próprios erros.

Moro num bairro bem pobre e feio da Zona Sul, estudei a vida inteira em escola pública, não fui a primeira aluna da classe nem nos meus melhores sonhos, mas aprendi o que são valores, respeito ao próximo, conversar de maneira pausada e educada e principalmente, aprendi a me comunicar.
Ouvir e aceitar que se fale “pobrema”, ou que se use termos como “preza”, “atoladinha” e afins é algo que dói, mas ouvir uma pessoa tão cheia de cultura dizer que essa é  a cultura do brasileiro, doeu mais ainda.

Tom Zé, em minha opinião é um cara denso, com cultura em excesso e por isso, nem me atrevo muito a discutir sua opinião, mesmo porque, não o conheço para fazê-lo, mas algo me diz que Tom Zé, não vive no subúrbio e não tem contato com o todo, especialmente com a atitude dos admiradores de funk.
Outro dia, um garoto parou na frente da minha casa, de moto, celular ligado, mais dois amigos e três garotas rebolando, se insinuando e amando o funk. Eu, chata que sou, fui até ele e disse educadamente “você se importa em abaixar o som e ouvir só pra você?! Ele todo sem graça disse “Ô dona, se importo sim!” e abaixou o volume.
Fiquei com pena porque o pobre rapaz mal sabia falar, não sabia como responder, disse que se importava sim, o que para alguém que sabe se expressar, significaria uma resposta negativa ao meu pedido, mas para ele, foi a maneira educada de dizer que sentia muito por incomodar.

Não sou contra o funk em si, mas sou contra a atitude atual das pessoas. Geralmente, andam com auto-falante do celular ligado na rua, no trem ou em qualquer lugar, em volume máximo e estão sempre encarando os demais com olhar desafiador, do tipo “se não gosta, o pobrema é seu! E se olhar mais um pouco, vai apanhar!”

Admiro muito o trabalho o MVBil, que é um cara tão suburbano quanto eu, mas não creio que ele tenha a atitude dos funkeiros do meu bairro, porque mesmo sendo de origem humilde e cantando rap, não tem a postura agressiva, não tenta se impor aos demais, se expressa de maneira coesa. Então me pergunto, o que o diferencia dos demais?
Será que na casa do MC qualquer coisa, o funk, a orgia e a falta de respeito imperam? Será que eles não ligam para a opinião dos vizinhos? Será que a moça do “to ficando atoladinha” grita e fala daquele jeito em tempo integral?
Se não for assim, então, o povo está adquirindo a cultura de maneira errada.

Como explicar ou justificar esse momento tão cultural do nosso povo?

A educação mudou? Os professores de alguns anos atrás eram melhores do que os de hoje? Os pais de alguns anos atrás eram mais rígidos que os pais atuais? Não há escola? Não existem pais?

Que cultura é essa que estamos passando de geração para geração?
Que educação estamos dando para nossos filhos?
Em que mundo nossos sobrinhos estão vivendo?

Acho que o nome “Pancadão” quer dizer muito mais do que um ritmo.

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